quinta-feira, 26 de outubro de 2017



Temer se livra de segunda denúncia, mas tem vitória mais apertada na Câmara

  • 25 outubro 2017

Como esperado, a Câmara dos Deputados negou o prosseguimento da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer. Foram 251 votos favoráveis a Temer e 233 contrários. Dois deputados se abstiveram e outros 25 se ausentaram.
A vitória do peemedebista, porém, foi mais apertada do que na primeira denúncia barrada pela Câmara - foram 263 votos favoráveis a Temer e 227 contrários.
A segunda denúncia contra Temer, apresentada pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF), acusa o presidente de obstrução de Justiça e formação de quadrilha. Com a decisão da Câmara, a denúncia fica suspensa até que Temer conclua seu mandato. A Justiça poderá, no entanto, julgá-lo quando ele deixar de ser presidente, caso considere as acusações consistentes.
Embora favorável ao presidente, o resultado indica que ele terá dificuldades em reunir o apoio necessário (308 deputados) para aprovar sua ambiciosa proposta de reforma de previdência.
"Mesmo com todo o esforço do governo, perderam votos. Com esse resultado, sem chance de conseguirem aprovar a reforma da previdência. Os deputados da base não vão encarar mais esse desgaste", disse o líder do PSB, Julio Delgado, deputado de oposição ao governo.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que tem assumido uma postura mais conflituosa com Temer, voltou a manifestar total compromisso com a aprovação das mudanças na previdência, mas apontou certo desgaste na relação entre governo e a Casa após as duas denúncias. "O presidente saberá refletir qual o melhor caminho para restabelecer sua relação com os deputados", afirmou.

Novo cronograma do governo

Já aliados de Temer minimizaram a perda de votos. Para o ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, que deixou temporariamente o cargo para votar como deputado, o governo só perdeu de fato 6 votos, que foi o número de deputados a mais que foram favoráveis ao andamento da denúncia. Os outros que deixaram de votar com o governo dessa vez optaram por se ausentar, ressaltou.
"A primeira denúncia foi muito mais difícil que essa", disse ainda, evitando, porém, fazer prognósticos sobre a reforma da previdência.
Vencida a denúncia, essa será a nova prioridade do Palácio do Planalto, que argumenta que as mudanças nas regras de aposentadoria são imprescindíveis para reverter o rombo bilionário das contas públicas.
No cenário ideal do governo, a reforma será aprovada em novembro na Câmara dos Deputados e até março no Senado, onde precisa do apoio de 49 dos 81 senadores.
Depois disso, a fervura eleitoral tende a inviabilizar qualquer pauta mais sensível, reconhecem políticos da base. Eles admitem também que a reforma só será aprovada se o governo ceder em pontos polêmicos, como a criação de uma idade mínima para aposentadoria, que deseja fixar em 65 anos para homens e mulheres.
O líder do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), argumentou que o resultado desta noite não serve de parâmetro para a votação da reforma, já que alguns parlamentares favoráveis às mudanças na previdência ficaram contra Temer na votação da denúncia - foi o caso de parte da bancada tucana.
Ele acabou reconhecendo, porém, que o governo terá que negociar uma proposta mais modesta: "Mesmo que se vote esse ano (a reforma da previdência na Câmara), não será suficiente para o que o Brasil precisa".

Votação à noite

As semanas anteriores à votação foram marcados por intenso contato de Temer com deputados da base, que foram agraciados com a liberação de dinheiro para obras, por meio do empenho de emendas parlamentares - quase R$ 1 bilhão em setembro e outubro - e uma série de nomeações de aliados para cargos do segundo escalão.
Sem votos para aprovar o andamento da denúncia - que exigiria 342 dos 513 deputados - a oposição passou o dia tentando impedir que fosse atingido o quórum necessário de 342 deputados para abertura da votação. Não conseguiu, mas, com ajuda de alguns insatisfeitos da base governista, foi capaz de empurrar a votação para a noite, quando supostamente mais pessoas poderiam acompanhar a sessão de casa, gerando mais desgaste para os aliados de Temer.
Durante o dia, com um pequeno caixote e um megafone, improvisaram um palanque do lado de fora do plenário, onde se revezaram em ataques ao governo.
"Somos minoria aqui na Casa, mas somos maioria na sociedade. Mais de 90% do povo brasileiro quer Temer fora do governo. Essa casa, por força de manobras e da corrupção da compra de votos, é a única instância em que esse governo tem maioria", discursou a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP).
Deputados fiéis ao presidente, por sua vez, lançaram novamente mão do discurso da "estabilidade", argumentando que a continuidade do governo era fundamental para a recuperação da economia.
"Deixe o homem trabalhar", brandou da tribuna o polêmico deputado Wladimir Costa (SD-PA), que na primeira denúncia fez uma tatuagem falsa com nome de Temer no ombro.
Além disso, aliados do presidente repetiram o discurso contra a "inépcia" da denúncia apresentada pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot - críticas que ganharam novo fôlego depois que foram revelados no início de setembro indícios de ilegalidade na condução da delação da JBS pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
"Essa denúncia é inepta, fruto de uma armação sórdida para derrubar o presidente da República, o que seria uma irresponsabilidade", defendeu o líder do PMDB, deputado paulista Baleia Rossi.

Legado de Janot

Na segunda denúncia, Janot acusou o presidente de ter tentado parar a Lava Jato. Ele teria feito isso ao dar o aval para que o empresário Joesley Batista, do frigorífico JBS, "comprasse" o silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do suposto operador do PMDB, o empresário Lúcio Funaro.
Além disso, Janot acusa Temer de ser o chefe de um grupo criminoso, que seria formado por políticos do PMDB na Câmara dos Deputados. Para a PGR, Temer era o braço político da suposta quadrilha, responsável por viabilizar os interesses de empreiteiras e outras empresas dentro do Congresso em troca de subornos.
Além da delação da JBS, o acordo de delação de Lúcio Funaro também forneceu elementos para a nova denúncia.
Em sua defesa, Temer se diz vítima de uma "conspiração" e cita os indícios de possíveis ilegalidades na condução da delação da JBS pela Procuradoria. Informações reveladas em setembro, a partir de gravações entre os delatores, indicaram que procuradores podem ter orientado os delatores ilegalmente a gravar o presidente.








Por 251 votos a 233, Câmara rejeita enviar ao STF segunda denúncia contra Temer

Presidente foi denunciado pela PGR pelos crimes de organização criminosa e obstrução de Justiça. Com a decisão da Câmara, processo ficará parado no STF enquanto Temer exercer o mandato.

Por Fernanda Calgaro, Alessandra Modzeleski e Bernardo Caram, G1, Brasília
 
Após 12 horas e 20 minutos de sessão, a Câmara dos Deputados rejeitou nesta quarta-feira (25), por 251 votos a 233 (com duas abstenções e 25 ausentes), enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Temer foi denunciado pelos crimes deorganização criminosa e obstrução de Justiça. A denúncia rejeitada pela Câmara também inclui os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral), acusados de organização criminosa.
Os 251 votos alcançados por Temer ficam abaixo da previsão do governo, anunciada nos últimos dias, que estimava entre 260 e 270 votos favoráveis. Na primeira denúncia que a Câmara derrubou (por corrupção passiva), em agosto,Temer obteve 263 votos (227 contra).
O placar desta quarta-feira é inferior, inclusive, ao mínimo de votos necessários para a aprovação de um projeto de lei complementar (257) ou para aprovar uma proposta de emenda à Constituição (308 votos), como a reforma da Previdência, uma das prioridades do governo.
Mesmo assim, muitos dos deputados que votaram contra Temer são favoráveis a reformas que o governo propõe. O PSDB, por exemplo, partido que detém ministérios, votou dividido: 23 contra, 20 a favor e 3 ausências (que beneficiavam o presidente).
Com a decisão, os deputados livraram Temer de responder ao processo no STFdurante o mandato. Caso fosse instalado, o processo provocaria o afastamento do presidente por até 180 dias.
Agora, Temer responderá na Justiça somente após a conclusão do mandato, em 31 de dezembro de 2018.
A sessão se arrastou por várias horas graças a uma estratégia da oposição de não registrar presença no plenário para retardar a votação ou, até mesmo, conseguir adiar a sessão.
O quórum só foi atingido por volta das 17h, quase oito horas depois do início da sessão (leia mais sobre a sessão ao final da reportagem).
Para garantir o resultado favorável, o governo atuou em várias frentes, como a liberação de emendas para a base aliada e a exoneração de ministros que detêm cargo de deputado para que pudessem votar também.
Às 20h34, a base aliada de Temer conseguiu reunir os 172 votos necessários (entre votos "sim", abstenções e ausências de deputados) para barrar o andamento da denúncia.
Mas, para que a sessão fosse validada, eram necessários os votos de, pelo menos, 342 dos 513 parlamentares, o que ocorreu às 20h51.
Após sucessivos episódios de atrito com Temer nas últimas semana, o presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) buscou conduzir a sessão sem privilegiar os governistas, dando espaço também aos opositores.

Relator e defesa

Ao analisar a denúncia contra Temer nesta quarta, os deputados aprovaram orelatório da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), elaborado pelo deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), que recomendava a rejeição da denúncia.
A sessão foi aberta às 9h19 e, logo no início, o relator usou a tribuna para defender o parecer. Em seu discurso, Bonifácio defendeu que a denúncia é "inteiramente falsa e esvaziada".
Em seguida, as defesas de Michel Temer, de Eliseu Padilha e de Moreira Franco se manifestaram e atribuíram à denúncia "viés político".
O advogado de Temer, Eduardo Carnelós, disse que a denúncia não apresentou provas e que a peça “mancha” a imagem da PGR.
Daniel Gerber, que defende Eliseu Padilha, argumentou que não há nenhum fato relacionado ao ministro na denúncia. Para ele, a peça é uma tentativa de criminalizar a política.
Por último, ao fazer a defesa do ministro Moreira Franco, o advogado Antônio Pitombo afirmou que a PGR apresentou uma denúncia “sem fato e sem tipicidade de crimes”.

Sessão

Na fase de debates, apenas alguns parlamentares da base aliada se revezaram na tribuna. Ninguém da oposição falou para que não fosse registrada a presença no plenário.
Essa etapa foi encerrada antes do meio-dia, mas, diante da articulação dos partidos de oposição, a sessão se arrastou por algumas horas à espera de que fosse atingido o quórum mínimo de 342 deputados para dar início à votação. Esse número só foi atingido às 17h02.
“A nossa estratégia era levar a votação para a noite, que é tudo o que eles não queriam, quando grande parte da população está em casa, de volta do trabalho. Penso que isso foi uma vitória grande. A unidade das oposições foi uma coisa rara, que não conseguimos na outra votação”, comemorou o líder da minoria, José Guimarães (PT-CE).

Temer internado

Enquanto os deputados aguardavam o quórum no plenário, uma notícia causou rebuliço entre os presentes: o presidente Temer sofreu um mal-estar e precisou ser levado às pressas para o Hospital do Exército, em Brasília, para um procedimento urológico.
Para tranquilizar os colegas, o líder do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), foi ao microfone dizer que não era nada grave.
Do lado de fora do plenário, partidos de oposição fizeram ao longo do dia diversos atos pelas dependências da Câmara. Em um deles, carregaram uma grande faixa com a inscrição "Fora Temer" pelo Salão Verde.
Horas depois de ser internado, Temer teve alta e deixou o hospital por volta das 19h50.