PSDB tenta
capitalizar insatisfação popular
Estadão Conteúdo/Dida
Sampaio/ Estadão Conteúdo - Dos principais candidatos à presidência da
República, Aécio Neves é o que possui menos seguidores no Twitter: pouco mais de
Os cerca de 51 milhões de votos do candidato derrotado do PSDB
nessas eleições presidenciais, senador Aécio Neves (MG), representam um
incentivo para tornar a sigla não apenas o maior partido de oposição ao governo
da presidente Dilma Rousseff (PT), mas também para se consolidar como porta-voz
das mudanças pleiteadas por quase 70% da população brasileira.
Fundado em
25 de junho de 1988, o partido tem pouco mais de um milhão de filiados e
pretende, até a eleição de 2018, aumentar significativamente este número com
uma chamada 'onda azul' de filiações. O movimento tentará capitalizar a insatisfação
da parcela insatisfeita da população para as alas do partido, a fim de aumentar
sua participação nos postos chaves no comando de municípios, Estados e do
próprio País no próximo pleito.
Pessoas
ligadas à direção da legenda afirmam que o caminho está pavimentado, mas os
correligionários precisam manter a mobilização e se concentrar nos grandes
temas dos próximos anos. Estarão na pauta desde a questão econômica até os
escândalos que assolam os partidos - o ex-dirigente nacional da sigla Sergio
Guerra, morto em março do ano passado, foi citado pelo delator Paulo Roberto
Costa junto com outros 27 políticos envolvidos no escândalo da Petrobras. A voz
corrente das lideranças do partido, incluindo o governador reeleito de São
Paulo, Geraldo Alckmin, é que a apuração vale para todos.
Aliado ao
movimento de filiação partidária e de mobilização, boa parte dos dirigentes do
PSDB defende que a sigla se consolide para a próxima disputa presidencial numa
linha parecida com a que o PT trilhou antes de assumir o poder: investir em um
único nome que pleiteie o posto até conquistar a tão sonhada cadeira
presidencial, a exemplo do que fez o ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da
Silva. E para esses correligionários, incluindo os do maior colégio eleitoral
do País, São Paulo, cuja liderança é do governador Geraldo Alckmin, o posto já
tem dono: o senador mineiro Aécio Neves.
Nos
bastidores e em público, a defesa do nome de Aécio como 'concorrente oficial'
do partido à Presidência é feita com veemência. Um integrante da executiva
nacional da sigla disse ao Broadcast Político que, mesmo com nomes
tradicionais que poderiam pleitear a cabeça de chapa nas eleições 2018, o de
Aécio tem a preferência. "Mesmo em São Paulo, terra de Serra (senador
eleito José Serra) e de Alckmin, três entre dois convencionais apostam no nome
do senador mineiro", diz a fonte.
A deputada
federal Mara Gabrilli (PSDB-SP) afirma que Aécio já está sendo muito bem
avaliado pela população não apenas pela votação expressiva que teve nas urnas,
mas pelo trabalho que vem fazendo no Congresso Nacional, na oposição ao governo
petista. "Ele se consolidou como oposição e nosso partido está se
repaginando e angariando o respeito e a simpatia da população, não apenas no
Congresso, mas também fora dele, nas ruas."
Na avaliação
do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que integrou a chapa presidencial
de Aécio Neves como vice, o nome do senador mineiro é a tendência natural de
aposta da legenda para o próximo pleito. Em entrevista exclusiva ao Broadcast
Político,, no final de dezembro do ano passado, Aloysio disse
que Aécio é aquele que pode fazer a travessia do deserto e chegar como o nome
forte do PSDB em 2018. Para ele, nem Serra nem Alckmin resistiram a essa
"travessia".
No páreo
Mesmo com a
posição adotada pela maioria das lideranças tucanas, o governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin, já deu mostras de que não está fora do páreo com Aécio. Neste
final de ano, enquanto o senador mineiro esteve ausente do cenário político, a
não ser pela postagem de um vídeo em sua página oficial no Facebook em que
pedia 'não vamos nos dispersar', Alckmin aproveitou para marcar posição no
discurso de posse de seu segundo mandato consecutivo. Aécio, que é presidente
nacional do PSDB, passou o fim de ano com a família e amigos em sua fazenda em
Minas Gerais, no município de Cláudio.
Ao mesmo
tempo em que acenou com a governabilidade, dizendo que São Paulo nunca vai
virar as costas para o Brasil, dando a dimensão da importância econômica e
política do Estado e relembrando trecho do discurso de seu mentor e padrinho
político Mário Covas, Alckmin teceu duras críticas à gestão de Dilma Rousseff,
assumindo também seu papel de opositor. Segundo ele, hoje a população vive em
um País injusto. "Todos nós conhecemos os duros prognósticos para a
economia nos próximos anos. O País poderá viver dias difíceis. Mas o discurso
fácil do pessimismo só é mais fácil que o discurso do otimismo irresponsável
que já nos custou muito caro", disse o tucano, conclamando todos, governo
e oposição, a recuperar a economia e aprovar as reformas necessárias para que
2015 não seja mais um ano perdido.
Desafios
Além da
disputa pela cabeça de chapa, que deve ganhar mais fôlego quanto mais se
aproximar a eleição, e da campanha de filiação partidária, os tucanos têm desafios
pela frente. Na avaliação de Aloysio Nunes Ferreira, o partido ainda não
conseguiu dar uma resposta efetiva 'ao carimbo' de que o PSDB é uma sigla de
ricos, da elite e que, se voltar ao poder, poderá tirar benefícios sociais,
como o Bolsa Família. "(Neste pleito) não acordamos a tempo para isso,
então é um fato que temos de enfrentar e superar", reconheceu.
O senador paulista defende também que a sigla
assuma claramente suas posições, como a defesa da livre iniciativa e das regras
do mercado na economia. "O PSDB é um partido social liberal, na verdade. A
social democracia, se você imaginar a origem desse termo, é algo muito próximo
de uma realidade política europeia. Agora, somos liberais na economia, claro
que com a presença reguladora do Estado, e social no sentido da democracia e
participação da busca da igualdade. A ideologia do PSDB é uma ideologia
democrática."
Tanto a
direção do partido quanto seus correligionários apostam que, depois das
eleições gerais de 2014, o PSDB amadureceu e conseguiu equacionar suas fissuras
internas. "Não temos mais problema de divisão interna", reiterou
Aloysio. Contudo, ele aponta outro desafio para a sigla: "O PSDB tem um
problema de outra natureza, natureza de formulação política. É preciso afinar
esse ideário que foi um ponto de convergência entre a candidatura do Aécio e o
movimento da opinião pública e traduzir isso em propostas políticas elaboradas,
otimizando a utilização das mídias sociais."