Nós e o tempo: breve reflexão sobre a velhice
Publicado em 25/07/15 às 14h52 - blog Balaio do Kotcho -
Nós e o tempo: breve reflexão sobre a velhice
Quando a velhice chegar
Eu não se se terei
Tanto amor pra te dar
("Os Velhinhos", música de José Messias, que foi gravada por Roberto Carlos no começo dos anos 70).
Em tempo (atualizado às 9h30 de domingo, 26.7):
o domingo amanheceu ensolarado, o frio deu uma trégua, hoje é Dia dos Avós e tem festa de aniversário do grande cidadão Audálio Dantas (idade indefinida), no 38 Social Clube, na Lapa, com música ao vivo e churrasquinho. Viva a vida!
Nada como um dia após o outro.
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Sabadão de inverno, bem frio e chuvoso. Dia bom para ficar em casa e ler um livro. O primeiro que vi na estante foi um que ganhei no ano passado do bom amigo Eros Grau, o ex-ministro do STF, uma grande figura, que encontro vez ou outra no bar da esquina.
Dei sorte. O livro dele "Paris _ quartier Saint-Germain-des-Prés" é um passeio afetivo de quem ama e conhece bem a cidade e sua vila mais charmosa, onde tem passado boa parte do ano. Já li quase cem páginas, mas resolvi dar uma parada para escrever este texto.
Não tem nada a ver com o livro nem com o autor, mas venho pensando neste tema da velhice já faz algum tempo. "Você não é velho", retrucam parentes e amigos quando toco no assunto. Eles não entendem que a mesma idade cronológica não é igual para todo mundo. Tem gente com 80 anos que parece estar com 70 _ e vice-versa.
A sensação do tempo passado vem vindo de mansinho, aos poucos, sem aviso prévio. Não marca dia. Vai se insinuando pelas frestas da alma e dos joelhos, cada dia mais um pouco. A família brinca comigo sobre esta mania de falar que estou ficando velho desde quando era moço.
Só que agora não é mais brincadeira. Aos 67 anos, mais de meio século trabalhando como jornalista, depois de dar várias voltas por todos os Estados brasileiros e por meio mundo, passar por umas 15 cirurgias e por quase todas as grandes redações brasileiras, sinto-me como um maratonista, feliz pelo percurso vencido, quando olho para trás, mas cada vez mais cansado, sem saber quanto falta para chegar.
Cansado de fazer, ouvir e falar as mesmas coisas; de dar murros em ponta de faca; de nadar contra a maré; de sonhar sonhos impossíveis; de acreditar em quem não merece; de jogar tanto tempo fora com coisas que não valem a pena.
Pois chega a hora em que dá mesmo uma certa "lebensmüde", expressão alemã que não tem tradução em português, e significa mais ou menos cansaço da vida ou bateria fraca. O problema não é só físico, mas mental. A gente sabe que precisa fazer caminhadas, nadar, correr, cuidar do corpo, do espírito e da cabeça, mas cadê força de vontade para fazer o que o geriatra manda?
No último aniversário, ganhei até uma bicicleta ergométrica que fica aqui no escritório só me olhando, pedindo para ser usada. Fica sempre para amanhã, enquanto passo o tempo todo lendo ou escrevendo, gastando a cabeça e o que me resta de neurônios. Para quê?
Se algum leitor está passando pelo mesmo problema e tem a receita para enfrenta-lo, envie, por favor, aqui para o Balaio.
Apesar de tudo, vida que segue.
Bom final de semana.