sexta-feira, 28 de novembro de 2014

PSB CONSIDERA APOIAR MARINA DE NOVO EM 2018...



PSB considera apoiar Marina de novo em 2018, diz herdeiro de Eduardo Campos
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Fernando Rodrigues
Do UOL, em Brasília
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O governador eleito de Pernambuco e um dos líderes emergentes do PSB, Paulo Câmara, 42 anos, afirma que seu partido tem "muitas convergências" com Marina Silva e que é possível reeditar a aliança com a ex-senadora na eleição presidencial daqui a 4 anos. "Em 2018 é muito provável que nós estejamos juntos de alguma forma. Ou ela [Marina] nos apoiando, ou nós apoiando ela", diz.
Em entrevista ao programa "Poder e Política", do UOL, Paulo Câmara diz que o PSB tentará construir alguma candidatura presidencial para 2018 em contraposição à do PT. Nesse projeto, Marina Silva é uma das possibilidades reais, mesmo que ela saia da legenda para fundar oficialmente sua própria agremiação a Rede Sustentabilidade.

Paulo Câmara no Poder e Política



Depois da morte de Eduardo Campos, em 13.ago.2014, Marina assumiu o posto de candidata a presidente pelo PSB neste ano. Uma parte da cúpula do partido não ficou satisfeita, como Carlos Siqueira, que deixou o comando da campanha. Siqueira é agora o presidente nacional do PSB e na 5ª feira (27.nov.2014) voltou a fazer declarações rudes a respeito de Marina. 

"Nunca a consideramos do PSB. Temos visões de mundo e de vida distintas e programáticas e portanto cada um vai seguir seu caminho na hora em que deseja", declarou o pessebista logo depois de o partido concluir uma reunião de sua Comissão Executiva Nacional, em Brasília. Apesar da beligerância de Siqueira, a opinião de Paulo Câmara é diversa. O governador eleito, um dos herdeiros de Eduardo Campos, acredita não haver obstáculos para uma aliança futura nos moldes da que se deu neste ano.

Na reunião de sua direção na 5ª feira, o PSB decidiu que manterá o que chama de "posição de independência" em relação à administração federal de Dilma Rousseff (PT). No segundo turno da disputa presidencial, o comando pessebista já havia apoiado o tucano Aécio Neves.


Só que o PSB tentará evitar ser confundido com o PSDB a partir de agora. "Não vamos ser oposição por ser oposição", declara Paulo Câmara. Na realidade, o governador eleito de Pernambuco pretende estabelecer uma relação de confiança e parceria com o Palácio do Planalto, pois dependerá de Dilma Rousseff para tocar vários projetos no Estado.

Uma demonstração do que significa ser "independente" e não "oposição por oposição" está no posicionamento do PSB sobre a polêmica atual a respeito de meta de superávit do governo. O Palácio do Planalto pretende alterar a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) porque não conseguiu conter os gastos neste ano. Os deputados pessebistas são contra. Já os senadores do partido aceitam a proposta dilmista, segundo Paulo Câmara.
Se a LDO não for alterada estaria configurado o crime de responsabilidade de Dilma Rousseff, passível de punição até com um impeachment? O futuro governador de Pernambuco considera essa interpretação "um exagero".

Embora classifique o PSB como partido de esquerda, Paulo Câmara se alinha a alguns pensamentos conservadores. Por exemplo, é contra flexibilizar as leis que tratam de drogas e aborto no Brasil.
Sobre as acusações contra Eduardo Campos no âmbito da Operação Lava Jato, que investiga casos de corrupção na Petrobras, afirma que todos no PSB serão "incansáveis" na defesa do ex-governador pernambucano.
As referências a Campos foram constantes nesta entrevista ao UOL. Formado em economia e mestre em gestão pública, Paulo Câmara deve sua carreira ao ex-líder do PSB. Auditor do Tribunal de Contas de Pernambuco, foi nomeado em 2007, aos 35 anos, secretário da Administração na gestão de Campos.
Paulo Câmara era desconhecido dos pernambucanos no início da campanha: tinha apenas 11% de intenção de votos em julho de 2014. Virou a disputa e venceu Armando Monteiro, do PTB, no primeiro turno, com 68% dos votos válidos.
Quando indagado sobre sua futura administração, afirma que continuará a governar como Campos. Instado a citar uma meta, aponta a necessidade de universalizar o ensino em tempo integral em toda a rede de escolas públicas de Pernambuco.
A seguir, trechos da entrevista do governador eleito de Pernambuco, gravada nesta 5ª feira (27.nov.2014) no estúdio do UOL, em Brasília:
A Executiva Nacional do PSB decidiu por uma posição de independência em relação ao governo da presidente Dilma Rousseff. O que isso significa?
O partido fez uma reflexão dentro da sua nova composição. Fez um processo de escuta com os deputados federais eleitos, com os senadores eleitos e os que vão continuar no mandato. Com os presidentes das Executivas estaduais. Com os novos líderes, como eu, que estou entrando agora na Executiva Nacional, como governador eleito. Esse processo de escuta foi muito rico. Mostrou o caminho que o PSB quer seguir, muito parecido com a decisão em 2013, quando o PSB saiu do governo Dilma. Nós tínhamos representantes, ministros, e do segundo escalão também. Resolvemos naquele momento entregar os cargos. A decisão de não aceitar cargos está mantida.
O PSB é um partido de oposição, portanto?
É um partido que tem um olhar crítico em relação ao que aconteceu nos últimos anos no Brasil. A gente entende que o Brasil poderia ter melhorado muito nos últimos 4 anos e não aconteceu isso. O partido vai tentar contribuir naquilo que acredita, tentando contribuir para o debate nacional.
Qual a diferença da posição do PSB em relação à de partidos como PSDB e o Democratas, que se dizem de oposição? É diferente ou é a mesma coisa?
É diferente. Há pontos que consideramos fundamentais para o Brasil. A partir do momento que o governo sinalizar para avanços nesses pontos... São pontos gerais, como reforma política, reforma do federalismo, mais recursos para a saúde, uma política diferente de segurança e olhar a questão federativa de maneira muito clara e muito transparente. Vamos apoiar o governo naquilo que seja mudança. Vamos analisar ponto a ponto. Não vamos ser a oposição pela oposição. Vamos contribuir para o Brasil, como contribuímos também no governo de Fernando Henrique Cardoso. O PSB foi a favor do Plano Real. Entendíamos que era importante para a estabilização econômica do Brasil. O PSB foi a favor da Lei de Responsabilidade Fiscal. Vamos analisar cada ponto. Vamos discutir no partido. Vamos ter uma posição realmente de independência.
Vamos a um ponto bem específico. O governo federal, no momento, tenta, no Congresso, alterar a Lei de Diretrizes Orçamentárias, a LDO, para alterar a meta de superávit fiscal para que dessa forma as contas fechem no final do ano. O PSB nesse caso é a favor ou contra?
Do jeito que está o projeto, o partido vai se posicionar, na Câmara dos Deputados, de maneira contrária. No Senado, não. No Senado já há uma defesa de dar um crédito de confiança para o governo nesse momento, mas que espera também que isso não ocorra no futuro.
O governo tem ampla maioria e deve acabar aprovando essa nova lei orçamentária. Mas, se não aprovar, há quem argumente que houve então crime de responsabilidade por parte da presidente. O que o sr. acha?
Temos que aguardar realmente o fechamento dessa votação e o que vai acontecer. O governo ainda teria um mês, se o projeto não for aprovado, para cumprir a meta que está estipulada anteriormente.
E a gente não pode prejulgar. A gente tem que ter uma explicação muito clara do governo: quais foram os motivos que levaram a isso, quais foram as questões que não podiam parar, os gastos que não podiam parar de jeito nenhum.
Se essa explicação for responsável, for transparente, for sincera, eu não vejo por que o partido entrar nessa questão [sobre se houve crime de responsabilidade]. A presidente Dilma acabou de ser reeleita. Temos que respeitar a sua reeleição. Houve uma aprovação muito grande, principalmente das regiões e das classes sociais mais baixas. A gente tem que respeitar e entender que isso é a democracia. Temos que ajudar o governo a governar.
O Brasil tem mais 4 anos com a presidente Dilma. Temos de contribuir para esse país dar certo. O país precisa melhorar muito em muitos aspectos, precisa voltar a crescer, tem um desafio do combate à inflação e tem muita coisa a fazer. As desigualdades sociais persistem, o desemprego tem que cada vez mais ser controlado. É um conjunto de opções. O partido tem que ser muito responsável em relação a essas questões.
Alguns setores da oposição falam claramente que, se a nova lei orçamentária não for aprovada, haveria a configuração do crime de responsabilidade. Alguns setores falam que isso poderia levar ao impeachment da presidente. O sr. considera isso correto ou um exagero?
No momento, sem as explicações oficiais, é um exagero. A gente tem que respeitar realmente as instituições e dar um crédito para o governo se explicar e mostrar realmente o que que houve, o que que aconteceu, e o que vai mudar para frente para que não ocorra novamente.
O candidato a presidente neste ano pelo PSB foi Eduardo Campos. Com a morte dele, assumiu o posto Marina Silva. No segundo turno, o PSB apoiou o tucano Aécio Neves. Em 2018, o sr. diria que o PSB deve trabalhar para ter um candidato próprio, deve trabalhar para apoiar algum candidato de um partido da oposição ou apoiar algum candidato das forças governistas atuais?
Defendo e acredito que hoje a ampla maioria do partido defende que nós tenhamos que recomeçar. Trabalhar nesses próximos 4 anos para a consolidação de uma nova candidatura. Nós apostávamos muito na candidatura do Eduardo. Eduardo se preparou muito para essa candidatura. Fizemos um programa de governo.
O nosso desafio nesses 4 anos até a próxima eleição é mostrar realmente como o PSB pensa, o que o PSB quer fazer diferente, como o PSB pode contribuir para o Brasil. Os governadores têm também um papel muito importante nisso.
São 3 governadores?
São 3 governadores. Sou eu, em Pernambuco; Ricardo Coutinho, na Paraíba, e o Rodrigo Rollemberg aqui no Distrito Federal.
O PSB tem se destacado pelos seus governadores. Eduardo mostrou que é possível fazer muita coisa em favor da população, mesmo com as limitações orçamentárias. Vamos construir um novo projeto. A gente tem a perspectiva de poder apresentar também para o Brasil novamente, em 2018, um projeto e nomes que possam fazer com que o Brasil melhore, que continue avançando.
Mas o PSB caminhará em 2018 alinhado às forças atuais que apoiam a presidente Dilma ou de uma forma independente?
Atualmente, o partido vai caminhar de forma independente. Vai contribuir para o Brasil naquilo que a gente acredita que é importante e tentar criar novas lideranças, novas pessoas que possam ter condições de em 2018 apresentar um projeto –um projeto que já se iniciou em 2014, de avanço para o Brasil, que pense diferente a política, que tenha conceitos de desenvolvimento social e econômico diferente dos atuais.
Além dos 3 governadores do PSB, quem são os líderes que o sr. apontaria de destaque no partido hoje?
Nessa nova geração, incluo o prefeito Geraldo Júlio, do Recife. E temos as lideranças que estão há muito tempo construindo o partido, que ajudaram Eduardo a chegar na sua candidatura.
Temos o vice-governador eleito de São Paulo, Márcio França. Temos o deputado federal que foi candidato a vice-presidente com Marina Silva, Beto Albuquerque (RS). O ex-governador [do Espírito Santo] Renato Casagrande. Temos senadores. O prefeito Márcio Lacerda, de Belo Horizonte. São muitas pessoas.
Existe um herdeiro natural de Eduardo Campos no partido?
Não. Não tem. Eduardo era uma pessoa que estava acima do partido. Já tinha tomado uma dimensão nacional. Eduardo estava num patamar acima. O desafio do partido é construir, dentro de um colegiado, pessoas que possam, juntas, chegar ao mesmo tamanho que Eduardo chegou.
Os integrantes da família de Eduardo Campos, Renata, viúva, e alguns dos filhos, têm interesse em entrar na vida político-partidária-eleitoral?
Tanto Renata como os filhos ainda estão em um processo de recuperação. Não foi fácil tudo o que eles passaram. Mas a gente vê muita vontade de continuar o legado que Eduardo iniciou.
Tenho certeza que a família Campos vai honrar muito o legado que Eduardo deixou e vai contribuir muito com Pernambuco e também com o Brasil. Eduardo formou filhos que com certeza vão ainda dar muito o que falar no futuro próximo.
O PSB em 2018 pode marchar ao lado de Marina Silva na disputa presidencial?
É um exercício de futurologia. Mas temos muitas convergências com Marina. Bem mais convergências do que qualquer tipo de divergência que possa ter ocorrido ao longo desse período.
Marina contribuiu muito também com o partido no período, desde que ela se filiou –porque ela ainda é filiada. Ela tem o respeito de todos nós, da direção, do presidente do partido. Nós queremos inclusive que ela continue no partido, contribuindo com o PSB, contribuindo com o crescimento do partido, com suas ideias, com sua forma de pensar, mas respeitamos muito também a sua posição.
Ela foi muito clara, foi muito transparente, desde o início, de que queria e quer fundar um novo partido, a Rede Sustentabilidade. E tenho certeza que vamos estar ainda conversando muito com Marina, independente da posição partidária que ela tomar, e em 2018 é muito provável que nós estejamos juntos de alguma forma. Ou ela nos apoiando, ou nós apoiando ela. Construindo uma nova alternativa para o Brasil.
É possível a reedição dessa aliança?
É possível, sim. Não vejo nenhum impedimento hoje em relação a isso. Pelo contrário, como disse, temos muita convergência em relação à maneira como a gente pensa o Brasil.
O fato de ele já ser um nome nacionalmente lançado seria uma vantagem?
Também, mas o papel importante é sua forma de pensar, avanços, convergências com o PSB. Nós fizemos o programa de governo juntos, Rede e PSB. É um programa de governo que pensa o Brasil de maneira diferente. O Brasil voltando a crescer, combatendo a inflação, mas tendo políticas inclusivas e de sustentabilidade. E pensar a política de maneira diferente. Marina Silva com certeza vai estar sempre conversando com o PSB, independentemente do destino dela.
Como é a sua relação com Marina?
Tive uma relação ao longo da campanha política, como candidato ao governo de Pernambuco. Primeiro como pré-candidato, depois como candidato. É uma relação de muito diálogo, de muito respeito, de muita transparência.
Falou com ela depois da eleição?
Falei já algumas vezes com ela. Tivemos muitas conversas ao longo do segundo turno. E com certeza esses diálogos vão permanecer.
O PSB hoje pode ser considerado um partido de direita, de centro ou de esquerda?
O PSB é um partido de esquerda. Um partido que tem a questão social como central. Mas um partido que sabe também ver o que está acontecendo no mundo, sabe ver o que precisa avançar e se adaptar aos tempos.
O ex-presidente nacional do PSB Roberto Amaral ficou insatisfeito com a posição do partido no segundo turno da disputa presidencial. Disse que o partido "jogou no lixo" o legado de seus fundadores ao apoiar o tucano Aécio Neves. O que que o sr. acha dessa declaração de Roberto Amaral?
Uma posição pessoal dele. Não é uma posição do partido. O partido, por ampla maioria, decidiu apoiar no segundo turno Aécio Neves por entender que a mudança era necessária naquele momento e havia o compromisso do então candidato Aécio Neves de pontos que eram importantes. Pontos defendidos por Eduardo, defendidos por Marina, de se comprometer também a colocar em prática como presidente da República.
Mas o partido continua o mesmo do tempo de Amaral, continua o mesmo da decisão que tomou quando entregou os cargos no governo da presidente Dilma. O partido, após aquele período eleitoral, voltou a fazer a boa política, a política de buscar o futuro dentro daquilo que pensa. A aliança com o PSDB foi uma aliança para o segundo turno, estratégica. Acho que foi importante o partido se posicionar, não seria bom o partido não tomar uma posição no segundo turno.
Mas o partido pensa diferente do PSDB, como pensa diferente também da forma como a presidente Dilma governou o Brasil nos últimos 4 anos. É isso que tem que ser levado em consideração. O ex-presidente Roberto Amaral com certeza já está vendo e vai ter a possibilidade de acompanhar os desdobramentos. Inclusive da reunião que nós tivemos em relação ao futuro do partido.
O sr. diz ser "possível" estar em 2018, de alguma forma, com Marina Silva. Mas o atual presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, protagonizou um episódio rumoroso ao sair da coordenação da campanha de Marina Silva neste ano. Como está a relação do atual presidente nacional do PSB com Marina Silva? Isto está superado ou não?
O momento eleitoral é difícil. Momentos de tensão. Aconteceu realmente um episódio com Carlos Siqueira, à época secretário-geral do partido. Ele decidiu não continuar com Marina exercendo o papel que ele exerceu na campanha de Eduardo. Foi uma posição de momento.
Como presidente [do PSB] já teve a preocupação de manter uma relação com Marina de diálogo, como sempre teve. Conversaram muito. Essa questão está superada, devidamente colocada e passada. Foi um momento eleitoral. A eleição realmente provoca muitos ruídos. Não é fácil comandar uma campanha, não é fácil ser candidato, não é fácil passar por tudo que Marina passou, Carlos Siqueira passou, Eduardo passou, eu passei em Pernambuco.
O pós-eleição também serve para isso. Serve para reflexão, serve para se conversar, para colocar as questões em ordem, para que, como a gente diz no Nordeste, lavar a roupa suja. Isso já foi devidamente feito e o partido hoje está unido. Carlos Siqueira deixou muito claro com Marina Silva: se houver o desejo dela de permanecer no PSB, ela vai continuar sendo respeitada, ouvida, e, se quiser, tendo participação ativa no destino do partido.
O sr. falou que o PSB pode ser considerado um partido de esquerda. O que pensa sobre liberalização do uso de drogas como forma de conter os crimes provocados pelo narcotráfico?
Entendo que esse debate ainda está muito recente no Brasil. Não é um debate maduro.
A sua posição qual é?
Atualmente, é contra. Eu acho que hoje nós temos outras questões muito mais importantes para discutir em relação a vários aspectos sociais.
O sr. se posicionaria hoje contrário a uma liberalização nos moldes em que ocorreu no Uruguai?
Contrário.
Sou a favor de se debater, mas acho que não está muito claro. Quando a gente não tem clareza do desdobramento de certas decisões, é preciso amadurecer bem para tomá-la.
O sr. acha que a lei atual sobre a prática do aborto é suficiente ou preciso ampliar o direito?
Nós defendemos a manutenção de como está hoje. Acho que [a lei] deve ser mantida e avançar nas discussões. Mas a posição forma que está hoje acho que é suficiente.
Na campanha presidencial, as posições de Marina Silva foram muito atacadas nos comerciais produzidos pela candidata do PT, a presidente Dilma Rousseff. Por exemplo a proximidade de Marina com Neca Setubal, que é da família que controla o Banco Itaú. Acabou  a eleição, Dilma Rousseff tentou convidar para ser ministro da Fazenda uma pessoa ligada ao Bradesco, Luiz Trabuco. Não deu certo. Convidou então um outro funcionário do Bradesco, Joaquim Levy para ser ministro da Fazenda. Como o sr. avalia esse episódio olhando agora a fotografia completa?
O debate não foi rico nesse sentido.
Quem conhece Marina sabe muito bem a sua forma de pensar. Em relação a essas questões, o Brasil hoje precisa de medidas que entendo que a presidente vai tomar com a escolha do Joaquim Levy. Mostra esse caminho de austeridade, de boa utilização dos recursos públicos. Isso é o que a gente ia fazer também, se chegássemos ao poder. Nós íamos ter medidas duras, mas medidas necessárias para o Brasil voltar a crescer, para o Brasil gastar melhor, para o Brasil arrecadar mais sem aumentar a carga tributária.
As propagandas críticas do PT foram desleais ou isso é regra do jogo mesmo numa eleição?
Fez parte do jogo. Quem acompanha a política brasileira vê que isso ocorre em toda a eleição. Acho que nessa eleição passou mais do tom do que deveria, em muitos casos, tanto no primeiro quanto no segundo turno. Mas a gente não pode jogar pedra em ninguém. As regras eleitorais estão aí, permitem esse tipo de fato e o que a gente tem é trabalhar para que isso não ocorra mais, para que o debate seja mais propositivo, mais a favor do Brasil.
A presidente Dilma Rousseff deve nomear Armando Monteiro, que é do PTB, ministro do seu próximo governo. Armando Monteiro foi candidato pelo PTB a governador de Pernambuco. Ficou em segundo lugar. O sr. o derrotou. Há um risco de haver a influência política que possa deteriorar a relação entre o governo de Pernambuco e o governo federal?
A presidente tem toda a liberdade para escolher a sua equipe. Nós respeitamos muito isso. É sempre bom ter um ministro pernambucano, um ministro que conheça os problemas do nosso Estado e os desafios do futuro.
O sr. já conversou com ele depois da eleição?
Não. Não tive a oportunidade de conversar com o senador Armando, mas ele já se mostrou publicamente disposto ao diálogo, como eu também estou aberto ao diálogo. Com certeza a gente sabe, e espera, que o ministro Armando, na sua pasta, possa contribuir para o desenvolvimento de Pernambuco e possa me ajudar como ministro de Estado a enfrentar os desafios que Pernambuco tem.
Mas em política não podemos ser ingênuos, não é? Há interesse de Armando Monteiro, daqui a quatro anos, talvez voltar a ser candidato ao governo de Pernambuco. O sr., se fizer um bom mandato, imagino vai querer disputar a reeleição. Como vai ser possível essa convivência produtiva ao longo de quatro anos com dois adversários nessas duas posições?
Vou fazer o meu programa de governo que foi amplamente aprovado pela população de Pernambuco. Eu tive 68% dos votos. Foi a maior votação do Brasil. Pernambuco quer a continuidade do que Eduardo iniciou.
Vou trabalhar muito nos próximos quatro anos. Não estou pensando em reeleição. Só vou pensar nisso, em reeleição, em continuidade, e nesse projeto político em 2018. Até lá, eu vou ficar muito focado em governar Pernambuco, em fazer com que as coisas aconteçam e pensar a política diferente, em pensar a política em favor do serviço público.
Geraldo Júlio, prefeito do Recife, foi eleito há dois anos. O sr. acredita que, em 2016, ele deva disputar a reeleição?
É possível. Geraldo tem uma trajetória muito parecida com a minha. Nós somos do Tribunal de Contas, tivemos a oportunidade de ser secretários de Eduardo. Geraldo disputou sua primeira eleição e vem fazendo bem para o Recife, vem conseguindo melhorar a vida da população. Ele vai ter legitimidade em 2016 para pensar e refletir no que ele vai querer. Mas Geraldo pensa como eu, também só vai discutir essas questões em 2016. Ele sabe que tem muitos desafios por nossa cidade e está muito focado também em ser um bom prefeito e cumprir os seus compromissos.
Há um caso rumoroso hoje na política nacional que envolve a Petrobras, na chamada Operação Lava Jato. Paulo Roberto Campo, ex-diretor da estatal, disse em sua delação premiada, segundo foi noticiado, que Eduardo Campos teria sido também beneficiado com desvio de verbas para abastecer a sua campanha de governador em 2010. Uma das obras mais caras da estatal, que é a refinaria de Abreu e Lima, fica em Pernambuco. Como o PSB reagirá no momento em que tudo isso for oficializado e as delações premiadas se tornarem públicas?
Primeiro, é preciso esclarecer que a refinaria é em Pernambuco, mas não há nenhuma participação do governo de Pernambuco na sua construção. É toda da União, a execução é direta pela Petrobras.
Ficamos muito surpresos e indignados com o aparecimento do nome de Eduardo ao longo desse processo. Sabemos como ele sempre tratou essa questão da Petrobras. Ele foi um defensor incansável da abertura da CPI, trabalhou para isso junto à base do PSB, defendeu a apuração de todos os fatos. Tenho convicção de que Eduardo não tem nada a ver com isso, e caso persista o aparecimento do nome dele, nós vamos ser incansáveis na sua defesa.
Já houve uma conclusão dentro do PSB a respeito de quantas horas de voo a campanha de Eduardo Campos utilizou com aquele jato Cessna Citation, que foi o avião que acabou caindo no trágico de acidente lá em agosto?
O partido está levantando tudo, já tem a ampla maioria [das informações] e está esperando conclusões. Estamos preparados para esse debate. A gente quer dar muita transparência para que não haja qualquer dúvida sobre esse assunto.
O sr. já trabalhou no Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco, na análise de contas públicas. É correta a percepção que, em geral, as pessoas têm no Brasil de que a maioria das obras públicas sempre tem um pouco de corrupção?
Não pode generalizar. Agora, os controles podem ser aperfeiçoados para que a transparência seja cada vez maior. Precisa avançar na questão das formas de contratação, nós temos uma lei de licitações de 1993, muitas coisas poderiam ser melhoradas. [Precisa de] mais participação dos órgãos de controle, sem amarrações, porque as amarrações terminam refletindo no custo das licitações. As pessoas embutem o custo de estar participando de obra pública. O Brasil precisa ser mais ágil, mais produtivo e contratar melhor, porque sempre dá para contratar melhor.
Qual vai ser sua principal prioridade como governador de Pernambuco?
Temos um projeto de continuidade em relação à educação. Pernambuco conseguiu implantar a maior rede de escolas de tempo integral do Brasil. Isso já mostrou nos resultados do Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] que é o caminho.
Quantos por cento das escolas públicas de Pernambuco têm educação em tempo integral?
Ensino Médio, hoje, 53%.
Qual é a sua meta?
Universalizar e fazer parcerias com os municípios para que haja também condição nas redes municipais de termos escolas de tempo integral.
Tem dinheiro e condições para isso?
Isso é o que a gente vai buscar. Quando se quer, se faz. E quando se prioriza, mais ainda. Pernambuco mostrou que dá para fazer, tanto é que nós temos hoje a maior rede pública de escolas de tempo integral [do país]. Maior do que todos os Estados da região Sudeste, que é a região mais rica. São Paulo, Minas [Gerais], Rio de Janeiro, se somar, temos mais vagas de escolas em tempo integral do que esses três Estados juntos. O resultado é muito claro, nas escolas de tempo integral temos as maiores notas do Brasil.
Pernambuco tem um programa de intercâmbio de estudantes para o exterior. Ele vai continuar?
Vai continuar. É o programa "Ganha o Mundo" que dá oportunidade...
Quantos já viajaram?
1.600 por ano. Esse programa tem 3 anos, foram em torno de 4 mil pessoas, porque às vezes não preenche todas as vagas. É um programa que aumenta os sonhos dos jovens e muda a vida dos que fazem o intercâmbio.
Estudantes do Ensino Médio?
Ensino Médio. Eles são selecionados de acordo com o seu rendimento escolar e têm a oportunidade de passar seis meses num intercâmbio. São jovens que saem do sertão, às vezes não conhecem nem a capital e já estão ganhando o mundo, indo para o Canadá, indo para a Nova Zelândia, Austrália.
Quanto custa um estudante no exterior nesse programa?
Em média, R$ 20 mil para 6 meses no exterior. É um custo relativamente barato, dada a valorização que se dá ao estudante e à oportunidade de alimentar os sonhos. Muita gente hoje está estudando mais tendo a crença que vai ter essa oportunidade de ganhar o mundo.
O sr. é jovem, tem 42 anos, 4 anos pela frente como governador. Como o sr. enxerga a sua carreira daqui para frente?
Tive a oportunidade de, na primeira eleição, alçar o maior cargo de Pernambuco, ser governador. E estou muito focado nisso, entusiasmado, até pela confiança que eu recebi da população. Não tenho planos para além dos próximos quatro anos. Vou trabalhar muito, ser intenso em relação ao meu programa de governo.
Mas o sr. se sente vocacionado? Gostou de disputar uma eleição?
Gostei, aprendi muito como candidato, tive a oportunidade de conhecer meu Estado profundamente. O bom da campanha eleitoral é o contato com a população, o processo de escuta, de ouvir, e isso eu levo também para o meu governo.
Acesse a transcrição completa da entrevista.
A seguir, os vídeos da entrevista (rodam em smartphones e tablets, com opção de assistir em HD):
1) Principais trechos da entrevista com Paulo Câmara (6:45)
2) PSB fala em apoiar Marina em 2018, diz Câmara (2:21)
3) Não faremos oposição por oposição, diz Câmara (1:18)
4) Espero parcerias de PE com governo Dilma, diz Câmara (0:54)
5) LDO: deputados do PSB não querem mudar; senadores, sim (1:40)
6) PSB é de esquerda, mas contra liberar drogas e aborto, diz Câmara (2:07)
7) Ataque de Dilma a Marina na eleição faz parte do jogo, diz Câmara (1:30)
8) Lava Jato: Vamos ser incansáveis na defesa de Eduardo Campos (2:03)
9) Câmara: Minha prioridade é educação em tempo integral para todos (1:34)
10) Quem é Paulo Câmara? (1:41)
11) Íntegra da entrevista com Paulo Câmara (50:42)

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Paulo Câmara no Poder e Política10 fotos

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Paulo Câmara, governador eleito de Pernambuco, concedeu entrevista ao UOL em 27.nov.2014. A gravação ocorreu no estúdio do UOL, em Brasília. Sergio Lima/Folhapress

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terça-feira, 25 de novembro de 2014

O AUTOENGANO PETISTA: PARECE QUE OS CORAÇÕES VALENTES ESTAVAM VIVENDO EM MARTE

25/11/2014

O autoengano petista: Parece que os corações valentes estavam vivendo em Marte -
25/11/2014 - Marcos Augusto Goncalves - Colunistas - Folha …
25/11/2014 03h00

Se a indicação, para o Ministério da Fazenda, do "ortodoxo" Joaquim Levy, causou
consternação entre petistas, a escolha, para a Agricultura, da senadora Kátia Abreu
provocou revolta e ranger de dentes. Nas redes sociais, não foram poucos os
entusiastas da candidatura Dilma que criticaram abertamente a decisão.
Nesse clima de "illusions perdues", houve até quem jogasse a toalha e se
declarasse na oposição. Mesmo alguns analistas da grande imprensa, com
experiência em bastidores e escaramuças políticas, mostraram-se decepcionados
com o que teria sido uma incoerência da reeleita -ou uma "capitulação" ao
mercado.

Pergunto: onde esses corações valentes estavam vivendo nos últimos anos? Em
Marte, o Planeta Vermelho? Acreditaram nas mistificações de João Santana sobre
banqueiros e executivos malvados do mercado que apoiavam Marina Silva e Aécio
Neves e comeriam as criancinhas nordestinas? Como esperar uma "guinada à
esquerda" de um governo enfiado até o pescoço em alianças -algumas nebulosas–
com o establishment econômico e com o que há de mais atrasado na política
institucional do país?

Faz tempo que o PT tornou-se o síndico do Centrão e deixou a retaguarda aberta
para um novo partido de esquerda – que já é o PSOL. Será preciso lembrar que o
vice-presidente da República se chama Michel Temer, que Edison Lobão é
ministro das Minas e Energia, que o bispo Crivella já ocupou o primeiro escalão e
que a nossa musa balzaquiana do agrobusiness é unha e carne com a presidente –
uma tecnocrata "revolucionária" que veste sapatos Louis Vuitton?
O autoengano da militância petista -sempre inclinada a ver "tática" onde o que
resta de estratégia, queira-se ou não, já se instaurou - chega a ser comovente em
seu jeito pueril de avaliar a realidade política. Desde pelo menos a famosa Carta ao
Povo Brasileiro, o PT -ao menos aquele em que Lula pontifica– tornou-se uma
espécie de versão mais aguerrida e "social" do PSDB, partido com o qual, aliás,
sempre manteve mais afinidades do que divergências.

Por razões de disputas políticas (e de afirmação ególatra), não raro paroquiais,
essas siglas, que nasceram como duas faces de uma mesma moeda (a da
hegemonia "esclarecida" de São Paulo nos anos pós-ditadura) procuraram e
procuram realçar ao máximo suas diferenças. De tal modo que preferiram dar o
braço a ACMs, Sarneys e Collors a buscar uma via mais curta e interessante para o
entendimento e a governabilidade. Ou será que a distância entre FHC e Lula era
mais longa do que aquela que separava cada um deles de ACM e Paulo Maluf?
Lula, não esqueçamos, fez campanha para FHC ao Senado nos tempos do MDB.
Alçado ao poder, o PT manteve, afinal, as bases da política econômica do governo
tucano, no qual Levy estreou como secretário-adjunto da Fazenda. Palocci, o extrotskista
neoliberal- progressista, e Meirelles -um ex-banqueiro que se filiara ao
PSDB-partiram da terraplanagem feita a duras penas pelo Plano Real, e a gestão
lulista logrou, com medidas distributivas e boa dose de sorte com os ventos
internacionais, dar um salto.

Lula, como se sabe, é um pragmático, um mediador, um espírito político forjado
pela negociação com o capital em favor de melhores condições para a classe
operária. Nunca desejou fazer revolução nenhuma, mas conseguir casa, comida,
TV, Fusca e escola para os mais pobres. Sempre foi um agente da ascensão social.
A inclusão que promoveu durante seu governo foi antes pela via do mercado do
que da cidadania: tratou-se ali de um segundo ciclo de integração de excluídos ao
mundo do consumo, após o primeiro, marcado pela estabilidade e a bancarização
dos pobres, propiciada pelo controle da hiperinflação.

O governo de Dilma Rousseff, personagem cheia de si e sabichona, mas com
frágeis qualidades para assumir a Presidência, até que tentou avançar em mais um
ciclo: se tudo desse certo, os juros cairiam a patamares mais civilizados -o que
beneficiaria a indústria, as contas públicas e o consumidor– e o país minimizaria
os efeitos danosos da crise mundial, preparando-se para uma nova etapa de
crescimento.
Só que deu tudo errado. A aprendiz de feiticeira enfiou os pés pelas mãos, errou a
mão no intervencionismo, na negociação política, nas mágicas contábeis e na
equipe econômica, sem falar na má sorte de ver os ventos internacionais - em
particular os orientais-mudarem de direção. Sim, manteve-se bom nível de
emprego e renda -aspectos exaltados durante a campanha, mas que não resistiriam
muito tempo mais ao desastre do desajuste fiscal, do baixíssimo crescimento (pior
que o dos anos Collor e FHC) e da inflação em trajetória de alta.

Diante desse quadro, uma pessoa querida perguntou-me antes da eleição: você
acha melhor o Aécio ou a Dilma? "Tanto faz", respondi, já impaciente e enjoado
com a campanha. "Claro que seria muito saudável para todos o PT passar um
tempo na oposição, mas a Dilma provavelmente vai ter melhores condições
políticas para fazer o ajuste econômico que os petistas acreditam ser uma proposta
equivocada do Aécio e dos neoliberais". Lula, que não é bobo e quer voltar (e aí o
PT, definitivamente, viraria nossa versão do PRI mexicano), sabe que é preciso
reconquistar a confiança dos investidores, dos mercados e da "zelite" -ainda mais
num momento em que o Petrolão assombra 12 anos de governança petista.
Lula, era público, queria alguém do mercado na Fazenda –Trabuco, ao que parece,
era seu predileto. Mas negou fogo. Levy vai na mesma linha, embora Armínio
Fraga, com quem tem muitas afinidades, pareça mais sofisticado.

Quanto a Kátia Abreu... Bem, Dilma é um trator movido a diesel. Por que a
surpresa?

Agora um pressentimento: são grandes as chances de que, após um período mais
difícil de ajuste, acompanhado de gritaria da esquerda, a economia entre nos eixos
e o país volte a crescer de maneira consistente – para deixar Lula (ou quem seja)
na porta do gol.
Quanto às preocupações ambientais e com a mudança de modelo em favor da
sustentabilidade... Bem, essa candidata era outra –e foi malhada por ser "amiga
dos banqueiros" e mudar de opinião. Como diria o velho Paulo Francis, waaaaaallll...

Marcos Augusto Gonçalves é editor da 'Ilustríssima'. É autor de 'Pós Tudo - 50 Anos
de Cultura na Ilustrada' (Publifolha, 2008) e de '1922 - A semana que Não Terminou'
(Cia das Letras, 2012).


ESCOLHIDO POR DILMA FEZ PROPOSTAS PARA GRUPO DE AÉCIO NEVES


25/11/2014 
Na campanha, escolhido por Dilma fez propostas para grupo de Aécio Neves - 
25/11/2014 - Mercado - Folha de S.Paulo

Na campanha, escolhido por Dilma fez
propostas para grupo de Aécio Neves
ANDRÉIA SADI
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA
25/11/2014 02h00

Escolhido por Dilma Rousseff para ocupar o Ministério da
Fazenda, Joaquim Levy colaborou informalmente com a
campanha de Aécio Neves (PSDB), principal adversário da
presidente na disputa eleitoral de 2014.
Segundo três integrantes do time do tucano e um
parlamentar que acompanhou a campanha de Aécio, a
linha direta de Levy era com Armínio Fraga, ex-presidente
do BC de Fernando Henrique Cardoso e coordenador do
programa econômico tucano.
"Levy é pupilo do Armínio e foi ouvido na campanha'', disse um aliado da equipe
do então presidenciável.
O ex-secretário do Tesouro, hoje no Bradesco, foi aluno de Armínio. Os dois
mantêm uma relação próxima.
Na campanha, Levy trocava ideias com Armínio sobre propostas para a área fiscal.
Ele, no entanto, não produziu textos para a campanha nem frequentava
pessoalmente reuniões com o grupo de economistas de Aécio.
Zô Guimarães - 29.ago.2014/Folhapress
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25/11/2014 Na campanha, escolhido por Dilma fez propostas para grupo de Aécio Neves - 25/11/2014 - Mercado - Folha de S.Paulo

Armínio Fraga, a quem Levy fez sugestões para a área fiscal
Uma ala do PT ainda tenta reverter a escolha de Levy para a Fazenda, alegando sua
proximidade com o projeto econômico do PSDB.
Eles dizem que a indicação pode representar uma contradição em relação a críticas
feitas por Dilma durante a campanha. Ela criticou a escolha de Armínio como
possível ministro da Fazenda em um governo tucano.
A Folha procurou a assessoria de imprensa do Bradesco para registrar a posição
de Levy sobre o assunto, mas ninguém atendeu.
A reportagem enviou, então, um e-mail para o banco e não obteve retorno.
A reportagem também não localizou Armínio Fraga para comentários.
O nome de Levy tem o apoio de Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda no
governo Lula e da Casa Civil no início do primeiro mandato de Dilma. Levy foi
secretário do Tesouro Nacional de Palocci e conta com o aval do ex-presidente
Lula.
BOLSA E DÓLAR
A indicação de Levy, confirmada pela Folha na sexta (21), foi bem recebida pelo
mercado: naquele dia a Bolsa de São Paulo subiu 5% e o dólar caiu 2,08%.
Nesta segunda (24), porém, sem a confirmação do nome, a Bolsa de São Paulo
25/11/2014 Na campanha, escolhido por Dilma fez propostas para grupo de Aécio Neves - 25/11/2014 - Mercado - Folha de S.Paulo

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oscilou e fechou o pregão em desvalorização de 1,21%.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,15%, cotado em R$
2,5476 no fechamento.
O comercial, usado em transações do comércio exterior, encerrou o dia valendo R$
2,549, alta de 1,07%.
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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

EX-DIRETOR DA PETROBRAS E 3 PRESIDENTES DE EMPREITEIRAS SÃO PRESOS




REDAÇÃO
14 Novembro 2014 | 12:46
Operação Juízo Final, sétima etapa da Lava Jato, mirou grandes empresas e bloqueou ainda R$ 720 milhões dos investigados


http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/lava-jato-cumpre-mandados-de-prisao-veja-quem-sao/

EX-DIRETOR D PETROBRAS E 3 PRESIDENTE DE EMPREITEIRAS SÃO PRESOS; VEJA A LISTA

Fausto Macedo e Ricardo Brandt



Executivos presos deixam a sede da PF em São Paulo em van. Grupo segue para Curitiba. Foto: Daniel Teixeira/Estadão


São Paulo – Em nova fase da Operação Lava Jato, denominada Juízo Final, a Polícia Federal decretou a prisão nesta sexta-feira, 14, do ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque além de quatro presidentes de grandes empreiteiras do País, dos quais três já estão presos. Ao todo foram decretados seis mandados de prisão preventiva, 19 de prisão temporária e nove de condução coercitiva de pessoas suspeitas de envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões.
Deste total, foram cumpridos quatro mandados de prisão preventiva e 14 de prisão temporária. Foram presos os presidentes das empresas OAS,  Queiroz Galvão e UTC. A PF também realizou buscas e apreensão em sete das maiores empreiteiras do País, apontadas como o braço financeiro de um esquema de corrupção na estatal.
A Justiça decretou ainda o bloqueio de cerca de R$ 720 milhões em bens pertencentes a 36 investigados. Três empresas de um dos operadores do esquema tiveram suas contas bloqueadas. Em entrevista coletiva concedida no final desta manhã, a PF informou que os sete grupos investigados mantêm contratos estimados em R$ 59 bilhões com a Petrobrás. Os ativos das empresas não foram bloqueados, apenas os de seus executivos até o limite de R$ 20 milhões por pessoa.
De acordo com as investigações, as empreiteiras repassavam propina a agentes públicos para conseguir contratos na petroleira. Duque seria o interlocutor do PT na Petrobrás. A diretoria de Serviços, comandada por ele entre 2003 e 2012, repassaria porcentuais dos contratos assinados para o partido. Em documento recente elaborado pela própria Petrobrás, a estatal apontou que a diretoria coordenada por Duque foi a responsável pelas 12 licitações da obra da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
VEJA A LISTA DE TODOS OS EXECUTIVOS CITADOS NOS MANDADOS DESTA SEXTA-FEIRA
Prisão preventiva: 
1. Eduardo Hermelino Leite (empresa Camargo Correa), alcunha ‘Leitoso’, Diretor Vice-Presidente da Camargo Correa S.A., São Paulo, SP
2. JOSÉ RICARDO NOGUEIRA BREGHIROLLI (empresa OAS), funcionário da Construtora OAS em São Paulo, SP
3. AGENOR FRANKLIN MAGALHAES MEDEIROS (empresa OAS), Diretor-Presidente da Área Internacional da Construtora OAS S.A, São Paulo/SP
4. SERGIO CUNHA MENDES (empresa Mendes Junior), Diretor Vice-Presidente Executivo da Mendes Júnior Trading Engenharia S/A, Brasília-DF
5. GERSON DE MELLO ALMADA (empresa Engevix), Vice-Presidente da Engevix Engenharia S.A., São Paulo/SP
6. ERTON MEDEIROS FONSECA (empresa Galvão), Diretor Presidente da Divisão de Engenharia Industrial da empresa Galvão Engenharia S.A., São Paulo/SP
Prisão temporária:
1. JOÃO RICARDO AULER (empresa Camargo Correa), Presidente do Conselho de Administração da Construções e Comércio Camargo Correa S.A, São Paulo/SP.
2. MATEUS COUTINHO DE SÁ OLIVEIRA (empresa OAS), São Paulo/SP.
3. ALEXANDRE PORTELA BARBOSA (empresa OAS), Advogado da Construtora OAS, São Paulo/SP
4. EDNALDO ALVES DA SILVA (empresa UTC), São Paulo/SP,
5. CARLOS EDUARDO STRAUCH ALBERO (empresa Engevix), Diretor Técnico da Engevix Engenharia S/A, Osasco/SP
6. NEWTON PRADO JUNIOR (empresa Engevix), Diretor Técnico da Engevix Engenharia S/A, Santos/SP
7. Dalton dos Santos Avancini (empresa Camargo Corrêa), Diretor-Presidente da Camargo Corrêa Construções e Participações S.A., São Paulo, SP
8. OTTO GARRIDO SPARENBERG (empresa IESA), Diretor de Operações da IESA ÓLEO & GÁS S.A., Rio de Janeiro/RJ
9. VALDIR LIMA CARREIRO (empresa IESA), Diretor Presidente da IESA ÓLEO & GÁS S.A., Pinhais/PR
10. JAYME ALVES DE OLIVEIRA FILHO, Rio de Janeiro/RJ,
11. ADARICO NEGROMONTE FILHO, São Paulo/SP,
12. JOSÉ ALDEMÁRIO PINHEIRO FILHO (empresa OAS), presidente da OAS, São Paulo/SP
13. RICARDO RIBEIRO PESSOA (empresa UTC), presidente da UTC Participações S.A., São Paulo/SP
14. WALMIR PINHEIRO SANTANA (empresa UTC), responsável pela UTC Participações S.A., São Paulo/SP
15. CARLOS ALBERTO DA COSTA SILVA, São Paulo/SP (endereço comercial),
16. OTHON ZANOIDE DE MORAES FILHO (empresa Queiroz Galvão), Diretor-geral de desenvolvimento comercial da Vital Engenharia, empresa do Grupo Queiroz Galvão, Rio de Janeiro/RJ,
17. ILDEFONSO COLARES FILHO (empresa Queiroz Galvão), Diretor-Presidente da Construtora Queiroz Galvão S.A, Rio de Janeiro/RJ
18. RENATO DE SOUZA DUQUE, Rio de Janeiro/RJ,
19. FERNANDO ANTONIO FALCÃO SOARES, vulgo ‘Fernando Baiano’, Rio de Janeiro/RJ
16 investigados que sofreram bloqueios bancários:
1) Eduardo Hermelino Leite
2) Dalton dos Santos Avancini
3) João Ricardo Auler
4) José Ricardo Nogueira Breghirolli
5) José Aldemário Pinheiro Filho
6) Agenor Franklin Magalhaes Medeiros
7) Ricardo Ribeiro Pessoa
8) Walmir Pinheiro Santana
9) Sérgio Cunha Mendes
10) Gerson de Mello Almada
11) Othon Zanoide de Moraes Filho
12) Ildefonso Colares Filho
13) Valdir Lima Carreiro
14) Erton Medeiros Fonseca
15) Fernando Antonio Falcão Soares
16) Renato de Souza Duque
Condução coercitiva:
1) Edmundo Trujillo, engenheiro, diretor do Consórcio Nacional Camargo Correa
2) Pedro Morollo Junior, engenheiro civil, OAS
3) Fernando Augusto Stremel Andrade, engenheiro civil, OAS
4) Angelo Alves Mendes, engenheiro civil, diretor vice-presidente da Mendes Júnior Trading e Engenharia S.A
5) Rogério Cunha de Olliveira, engenheiro eletricista, diretor da Área de Óleo e Gás -(ANOG) da Mendes Júnior Trading e Engenharia
6) , Flávio Motta Pinheiro, economista, diretor Administrativo e Financeiro da MENDESPREV – Sociedade Previdenciária
7) Cristiano Kok, presidente da Engevix Engenharia S/A.
8) Marice Correa de Lima, cunhada do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto
9) Luiz Roberto Pereira
COM A PALAVRA, A DEFESA:
Abaixo, as notas divulgadas pelas empreiteiras sobre as prisões desta sexta, a Galvão Engenharia não retornou os contatos da reportagem
“A OAS informa que foram prestados todos os esclarecimentos solicitados e dado acesso às informações e documentos requeridos pela Polícia Federal, em visita à sua sede em São Paulo. A empresa está à inteira disposição das autoridades e vai continuar colaborando no que for necessário para as investigações.”
“A Queiroz Galvão reitera que todas as suas atividades e contratos seguem rigorosamente a legislação em vigor e está à disposição das autoridades para prestar quaisquer esclarecimentos necessários.”
“A Polícia Federal esteve hoje (14/11) no escritório da Odebrecht no Rio de Janeiro para cumprimento de mandado de busca e apreensão de documentos, expedido no âmbito das investigações sobre supostos crimes cometidos por ex-diretor da Petrobras. A equipe foi recebida na empresa e obteve todo o auxílio para acessar qualquer documento ou informação buscada.
A Odebrecht reafirma que está inteiramente à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos sempre que necessário.”
“A UTC colabora desde o início das investigações e continuará à disposição das autoridades para prestar as informações necessárias.”
O criminalista Fábio Semantob Tofic, que representa a Engevix, chamou de “presunções absurdas e genéricas os fundamentos da ordem de prisão” dos executivos. “Coloca-se todos os investigados na mesma vala comum, sem especificar a situação de cada qual, quando diz que pode haver ameaças à testemunha ou que os investigados podem deixar o país. Estão colocando todos numa mesma situação, mas a situação de um é diferente da situação do outro.”
Para Tofic, “se as empresas quisessem obstruir as investigações teriam feito isso nos últimos seis ou sete meses”.
“É uma investigação pública e não se apresenta um único elemento que tenha contribuído para atrapalhar essa apuração”, observa Tofic.
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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O ciclo político mudou. E a esquerda, olímpica? CARTA MAIOR - 05/11/2014


05/11/2014 00:00 - Copyleft

O ciclo político mudou. E a esquerda, olímpica?

O que pretende o conservadorismo é não dar tempo ao Brasil para conversar e repactuar o seu futuro. Qual é a disposição progressista para se unir e avançar?

por: Saul Leblon 

Geraldo Magela / Agência Senado
A história não bate à porta, nem reserva espaço na agenda das nações. 
 
Independente da moderação progressista nos últimos 12 anos, as grandes questões do poder de classe estão de volta à cena política brasileira. 
 
Sempre estiveram presentes. 
 
Mas a trégua propiciada pela fartura do ciclo recente de alta das commodities tingia de pardo todos os gatos.
 
O governo progressista não errou em aproveitar a relação de trocas favorável dos últimos anos para ativar políticas e investimentos que mudaram a fronteira da produção e do consumo.
 
A narrativa conservadora sempre desdenhou da dinâmica vigorosa embutida nesse degelo social. Mas o fato é que se criou uma gigantesca dissonância à receita de um Brasil pensado para 30% da população. 
 
Ela impôs a quarta, exasperante e sucessiva derrota presidencial ao conservadorismo em 26 de outubro.
 
Não é pouco. 
 
Reconhecer os novos aceleradores sociais do desenvolvimento não implica negar os gargalos prevalecentes e outros adicionados pela longa crise capitalista que agora desafia a resistência brasileira à restauração neoliberal no mundo.
 
Ambos são reais. 
 
Mas a coexistência de um Brasil urgente, vital e encorajador com uma estrutura de comunicação anacrônica, monopolista e golpista desequilibra e constrange as vozes que precisam ser ouvidas nessa encruzilhada da história.
 
A travessia não se completará de forma emancipadora se a mídia persistir como um poder ubíquo, dotado de meios hegemônicos e recursos leoninos para mediar a conversa do Brasil com ele mesmo.
 
A distorção não ocorre por acaso.
 
O monocromatismo dos tempos de bonança iludiu alguns e desarmou outros. 
 
O que era conjuntural foi adotado como perene e desdobrado em leniência organizativa, política e midiática.
 
Corações e mentes foram atrofiados para o embate que um dia afrontaria violentamente a mutação social em curso
 
O dia chegou.
Não porque as pupilas dilatadas de Aécio sejam mais carismáticas que a morbidez facial de Serra. Não porque Alckmin tenha adicionado algo a sua empatia de azulejo branco de banheiro. 
 
Eles são o que sempre foram. 
 
Estão onde sempre estiveram.
 
A diferença que enseja a crispação nas ruas, nas manchetes e no parlamento reflete o esgotamento de um ciclo econômico, e a vitória progressista no primeiro round de definição do próximo. 
 
O que eles pretendem?
 
Não dar tempo ao Brasil para conversar sobre o seu presente e repactuar o seu futuro.
 
Assim: transformando o segundo mandato de Dilma em um frango desossado da Sadia, servido em pedaços inversamente proporcionais à métrica das urnas.
 
O peito farto, por favor, ali aos senhores rentistas.
 
Coxa e sobrecoxa suculentas a quem não aguenta mais pagar o ‘custo Brasil’; inclua-se no intolerável o salário mínimo das domésticas.
 
Ao povaréu genericamente classificado de ‘nordestino-dependente’, que como tal votou no provedor, cumpre lambiscar a carne de pescoço.
 
Em vão o TSE notifica o açougue de cortes finos com os números de um país marmorizado por conflitos mais complexos do que o mapa ‘geográfico/cultural’ retalhado no cepo de Higienópolis.
 
Os números oficiais mostram uma votação em Dilma mais equilibrada nacionalmente do que aquela atribuída ao rival conservador. 
 
Fatos.
 
No Sul e no Sudeste ‘ricos’, o tucano Aécio Neves teve uma supremacia contabilizada em 35,5 milhões de votos. 
 
Mas, para a surpresa dos analistas de bico longo, Dilma somou nas duas regiões 26,6 milhões de eleitores. Gente ‘bem informada’ que dobrou a aposta na democracia social que se tenta construir no país.
 
Receptividade equivalente não teve o candidato dos mercados no Nordeste: num reduto onde Dilma enfileirou 20 milhões de votos, Aécio arregimentou oito milhões de adesões; não venceu em nenhum estado. 
 
Dilma, ao contrário, ganhou no Rio de Janeiro e Minas, que como se sabe pertencem ao Brasil ‘fino e ilustrado’. No berço político do rival mineiro o fez com certa ênfase pedagógica: abriu cinco pontos de vantagem, ganhou em 71% dos municípios, em 8 das 12 regiões econômicas e impôs ao tucano a perda do governo do estado para o PT.  Sem requerer o esforço de um segundo turno.
 
Portanto, se a dinâmica macroeconômica esgotou a fase alegre dos consensos, a verdade é que o aguçamento dos conflitos que se prenuncia obedece a uma lógica cada vez mais transversal à geografia.
 
Ao jogral do Brasil aos cacos não apetece a contabilidade nua e crua de um conflito entre privilegiados e aspirantes à cidadania pena.
 
Sua preferência é engessar o novo mandato de Dilma para que o próprio  governo cumpra a profecia da rejeição nacional desmentida pelas urnas.
 
Que fazer? 
 
Transformar a Dilma ‘gerentona’  em um Obama cool, afogado em tibieza e concessões até ser eviscerado nas urnas, como o democrata o foi nesta 4ª feira?
 
Ou aceitar o jogo de um confronto exclamativo –sem contrapartida crível na melhoria da vida cotidiana-- que  entregará de bandeja a classe média e o empresariado ao palanque do desgoverno e da volta da ordem?
 
Não há receitas a seguir. 
 
A história de cada povo não é um artigo exportável.
 
Uma nação é um futuro em aberto revestido das suas circunstancias.
 
Quem ergue as pontes entre uma margem e outra é o poder e o consentimento adquiridos no xadrez da correlação de forças.
 
Conflitos latejantes como os vividos no país não constituem exceção. São eles que movem a história.
 
É importante aprender com ela.
 
Mais que aconselhável: é imperativo não ignorar suas lições.
 
Na história recente latino-americana não há episódio mais dilacerante e pedagógico de tentativa de construção de uma democracia social do que aquele que culminou com o golpe de Estado contra Salvador Allende, no Chile de 1973.
 
Repita-se: a história do Brasil não é a do Chile; Dilma não é Allende; 2014 não é 1973; o PSDB não é a Democracia Cristã. O PT não é e não pensa como o Partido Socialista chileno dos anos 70.
 
Mas referências que se imaginavam calcificadas para sempre ecoam de novo sua pertinência como um pontão avançado do futuro que nos desafia.
 
Hesitar diante desse debate significa endossar uma interdição histórica que tornará ornamental a bandeira da construção de uma verdadeira democracia social no país.
 
Se a escolha não for pela resignação é preciso dar consequência a ela.
 
A mais urgente passeia aos nossos olhos.
 
Ao transbordar de forma beligerante da derrota eleitoral para as ruas e a mídia, a ofensiva conservadora evidenciou a inexistência de uma base popular minimamente organizada para defender não apenas os avanços e conquistas dos últimos anos, como o próprio resultado das urnas.
 
‘Não endossamos os que defendem a volta dos militares’, dizem pavões tucanos; ‘mas queremos recontagem de votos e sufocaremos mandato de Dilma entre o denuncismo midiático, a especulação financeira e o impeachment político’.
 
Um golpe não começa na véspera. 
 
Seu preâmbulo pode durar meses, anos.
 
Das refregas colhidas em diferentes tentativas de se transitar para uma sociedade mais justa na América Latina, o massacre da experiência democrática chilena reúne essa dupla chave para refletir sobre os dias que correm no Brasil: assimetria entre organização política e transformações econômicas; e negligência diante dos sinais emitidos pela crispação conservadora.
 
O custo é sabido.
 
Em 11 de setembro de 1973, o então comandante das Forças Armadas do Chile, general Augusto Pinochet, calafetou as duas lacunas a ferro e fogo.
 
Desde então a construção da democracia social na América Latina passou a figurar no discurso progressista como a margem distante de um rio desprovido de pontes e embarcações de acesso. 
 
A transição deixou de ser obra coletiva organizada para se tornar um apanágio da correnteza do mercado.
 
Muitos, durante muito tempo, dentro e fora do PT, consideraram essa como uma ‘não-questão’; que tudo se resolveria no piloto automático do economicismo, com avanços incrementais que se propagariam mecanicamente pela correlação de forças da sociedade.
 
Pode ser parcialmente verdade em tempos de céu de brigadeiro na economia.
 
Mas não é mais assim e não será assim no segundo governo Dilma. A longa convalescença da crise mundial não aponta para um alvorecer promissor a curto prazo. 
 
Qual é a disposição progressista para se unir, resistir à fritura e avançar?
 
Não se discute aqui a composição imediata do governo Dilma, que certamente fará concessões graúdas na tentativa de obter algum chão firme que lhe devolva o poder de iniciativa nos dias que correm.
 
O que se discute é a capacidade progressista de se reinventar na disputa pela hegemonia mais ampla.
Em 2018. E mais além.
 
O que a experiência chilena pode acrescentar a essa reflexão? 
 
O governo da Frente Popular de Allende ensejou certa prostração no Estado e na sociedade diante da inércia organizativa em relação a interesses que nunca toleraram o seu projeto vitorioso nas urnas.
 
Allende era o presidente de um governo minoritário no Congresso e na Câmara. 
 
Um governo invariavelmente apunhalado por um centro democrata-cristão, que no limite não hesitou em se aliar à extrema direita do Partido Nacional para pregar os derradeiros pregos no caixão da legalidade e da democracia. 
 
Allende endossou no seu cálculo político dois mitos fatais: a crença na propalada solidez de 100 anos de democracia congressual chilena e na decantada postura profissional do Exército do país. 
 
Foi fiel as suas ilusões. 
 
Desestimulou e proibiu a organização operária de autodefesa. Prestigiou e nomeou para o ministério generais "profissionais" - um deles, Augusto Pinochet. Sujeitou-se ao desgaste do jogo parlamentar demitindo ministros e desautorizando iniciativas sob exigência do Congresso.
 
Hoje é fácil enxergar os erros e lacunas do processo chileno 
 
Terá o campo progressista brasileiro a mesma argúcia para se livrar dos seus erros e omissões em tempo de a experiência em curso figurar um dia como alternativa de transição para uma sociedade mais justa na América Latina?
Depende um pouco daquilo que Carlos Altamirano, ex-secretário-geral do Partido Socialista chileno, disse em autocrítica curta e grossa: ‘Faltou à Unidade Popular a capacidade de prever e alterar as formas de luta quando isto se tornou necessário (...) Por exclusiva vontade das classes dominantes, a confrontação devia produzir-se em algum momento do itinerário’.
Leia a seguir trechos de uma cirúrgica retrospectiva do processo chileno produzida pelo historiador marxista, Augusto César Buonicore: 
 
O candidato da Unidade Popular (UP), médico Salvador Allende, venceu as eleições presidenciais chilenas de 4 de setembro de 1970 por uma margem bastante apertada. Ele obteve 36,6% dos votos, Jorge Alessandri do Partido Nacional (direita) 34,8% e Radomiro Tomic, da Democracia Cristã, 27%. Uma multidão tomou as ruas de Santiago.
 
A guerra ainda não havia sido ganha. Como nenhum dos candidatos obteve maioria absoluta cabia ao Congresso Nacional, no qual a UP era minoria, confirmar o vencedor. Começou, assim, uma intensa pressão da burguesia sobre os parlamentares democrata-cristãos para que não aceitassem o resultado das urnas.
 
(A tensão foi vitaminada por uma série de atentados). O próprio adido militar dos Estados Unidos entregou três metralhadoras a oficiais golpistas que assassinariam o general Schneider (legalista) no dia 25 de outubro.
 
O fato ocorreu poucas horas antes da votação no Congresso que deveria homologar o nome de Allende. A CIA exultou: “a 24 horas da reunião do Parlamento, um clima de golpe existe no Chile (…)
 
O atentado contra Schneider produziria efeito inverso. O país ficou consternado e o resultado acabou sendo desfavorável às forças de direita. A ala democrática da Democracia Cristã venceu e, em 24 de outubro, o congresso acabou reconhecendo a vitória de Allende. 
 
Em troca, porém, exigiu a aprovação do Estatuto de Garantias Constitucionais pelo qual o novo governo socialista ficava proibido de mexer nos meios de comunicação privados, na educação e nas Forças Armadas. Um acordo que o novo governo Allende cumpriria religiosamente nos seus mil dias conturbados.
 
A esquerda havia conquistado o governo mas não o poder: os poderes legislativo e judiciário continuavam firmes nas mãos de representantes da burguesia. A subestimação deste dado da realidade criou perigosas ilusões no seio das forças socialistas chilenas.
 
Medidas econômicas e sociais adotadas logo no início do governo socialista levaram a um aumento de 12% na produção industrial; o PIB cresceu 8,3%, índice inédito até então. O desemprego caiu e houve um processo rápido de recuperação salarial. A participação dos assalariados na renda nacional subiu de 53% para 61%. A CUT foi legalizada e passou de 700 mil para 1 milhão de filiados.
 
Todas as crianças chilenas passaram a ter o direito a meio litro de leite por dia. O médico Salvador Allende ampliou drasticamente os serviços médicos e escolares. As medidas levaram a uma redução significativa da mortalidade infantil e dos níveis de analfabetismo. 
 
Em abril de 1971, a UP teve mais uma estrondosa vitória nas eleições municipais. Ela conseguiu 50,2% dos votos enquanto a DC atingiu 27% e o PN (a extrema direita) apenas 20%. A votação refletiu um deslocamento para esquerda e reforçou a tese sobre a possibilidade de um “via chilena para o socialismo”. 
 
(Durou pouco). Em outubro de 1972 eclodiu uma greve dos caminhoneiros, seguida por uma greve no comércio, nos transportes urbanos, nos hospitais particulares etc. Era uma greve insurrecional da burguesia. Mais de trezentas mil cabeças de gado foram contrabandeadas e dez milhões de litros de leite atirados nos rios para que não chegassem às crianças pobres. A terra não foi semeada; a produção de alimentos caiu catastroficamente.
 
Em pouco tempo começou a faltar alimentos nas grandes cidades. Proliferou o mercado negro que disparou o processo inflacionário. 
 
O crescimento do PIB caiu para 5% em 1972. A situação econômica ficaria mais grave em 1973. 
 
Um setor importante das classes médias veio a engrossar o movimento oposicionista ao governo Allende. Seu padrão de vida significativamente superior ao das grandes massas empobrecidas da cidade e do campo (e) consideravelmente maior que nos países capitalistas avançados (dificultava) uma aliança objetiva com o proletariado.
 
(era como se a burguesia sussurrasse ao seu ouvido) ‘Cuidado! Nós somos os primeiros, mas depois virão vocês (…). Hoje expropriam as grandes empresas, mas terminarão por estatizar até os pequenos negócios ‘.
 
Mesmo assim, nas eleições parlamentares de março de 1973, a UP conquistou 44% dos votos e se consolidou como principal organização política do Chile. O aumento do número de parlamentares progressistas inviabilizou o golpe branco, parlamentar, para destituir Allende. 
 
(começou então) o crescimento da violência promovida pela extrema-direita. Em fevereiro de 1972 o alto comando militar já havia desbaratado um plano para assassinar Allende. Em 26 de julho de 1973 o próprio comandante Arturo Araya, adido naval do presidente, foi morto num atentado. Nos últimos meses do governo Allende a direita cometeu, em média, 21 atos terroristas por dia.
 
Os acontecimentos se sucederam num ritmo que atropelou a própria esquerda. Em maio de 1973, setores militares já haviam decidido o golpe. Para ajudar no clima de desestabilização, os empresários patrocinaram uma greve no transporte urbano. Em resposta, em 21 de junho, a Central Única dos Trabalhadores chilena realizou uma greve geral em apoio ao governo. Um milhão de trabalhadores desfilaram pelas ruas de Santiago. 
 
Poucos dias depois, no 29, ocorreu uma primeira tentativa golpista. Um regimento de blindados tentou atacar o Palácio presidencial. Aproveitando o clima de instabilidade, a Democracia Cristã conseguiu aprovar na Câmara dos Deputados uma resolução declarando a “ilegitimidade” do governo. 
 
Nas primeiras horas da madrugada do dia 11 de setembro a Marinha se sublevou em Valparaíso, depois de participar de manobras conjuntas com a marinha norte-americana. Allende se dirigiu ao Palácio de La Moneda.  (resistiu) por horas aos ataques de tropas de infantaria, blindados e caças Hawker Hunter. (Foi uma resistência heroica e solitária). Depois de mais de dois anos de governo não havia sido construída nenhuma estratégia para responder a um possível golpe militar, apesar das inúmeras ameaças e do crescimento da violência fascista. Confiou-se integralmente nos dispositivos militares legalistas de Allende. Quando este falhou, o governo e o povo ficaram sem uma alternativa viável. 
 
Recuar, fazendo novas concessões à Democracia Cristã, ou avançar, rompendo a legalidade burguesa. Uma decisão nem sempre fácil de ser tomada. Este, talvez, tenha sido o grande dilema da “via chilena para o socialismo”.