Lava Jato, Cunha, impeachment e a demolição da política brasileira
Por Rogério Jordão | Rogério Jordão – qua, 16 de dez de 2015Com Eduardo Cunha, dois ministros, deputados e a sede do PMDB em Alagoas sendo alvo de cumprimento de mandados de busca & apreensão pela PF, como aconteceu esta semana, a Lava Jato impõem à política seus ditames. Se a Lava Jato fosse um estilo musical, este seria um dramático tango argentino, com picos de tensão, paradas, suspenses, rodopios (seus dançarinos a imagem de uma República que precisa reencontrar seu passo).
Aos poucos a Operação, deflagrada em março de 2014 como uma investigação sobre doleiros, vai demolindo a política brasileira tal qual a conhecemos. O que sairá disso só pode ser imaginado como ficção. Por ora o que se pode antever é uma imensa pororoca com o timing jurídico-policial se juntando ao calendário de um impeachment que provavelmente chegará ao plenário da Câmara, mas em futuro incerto. Olhando o quadro hoje, a Lava Jato é mais importante do que as “ruas” para o desfecho da novela de Dilma, ao mesmo tempo em que a Operação é bem mais ampla, em seu alcance, do que uma mera troca de fusíveis no sistema político.
A opinião pública aplaude. A política está no fundo do poço. Os partidos rejeitados. Não são confiáveis para 99%, apontam pesquisas. Oito em cada dez brasileiros querem a cassação de Cunha (outros 65% o impeachment de Dilma). Em finais de novembro o Datafolha divulgou que 53% dos brasileiros consideram que o desempenho de deputados e senadores é ruim ou péssimo – a pior avaliação desde 1993, quando explodiu o escândalo dos Anões do Orçamento (emendas parlamentares direcionadas em troca de favores). Para um terço da população corrupção é o principal problema do país. São muitos os dados, números e sinais de que a política, de fato, pifou.
Policiais realizando buscas em residências oficiais em Brasília – e tendo seus agentes filmados por helicópteros da TV – não são uma novidade. Em julho a PF fez operação semelhante, a “Politeia”, expondo para as TVs carros apreendidos na casa do senador Collor. De lá para cá quase tudo aconteceu. Um senador (Delcídio) foi preso, fato inédito, quando o STF institui que vivemos um “estado de flagrância”. Agora, a dança é com o PMDB e parte de seus caciques.
Com o impeachment na pauta – e com as ruas sem roncar – a Lava Jato vai moldando a política nacional ao mesmo tempo que construindo os andaimes de suas soluções. O povo aguarda. É preciso um novo ciclo, com ou sem Dilma.
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Imagem:Tânia Rêgo/AgBrasil