domingo, 3 de janeiro de 2016



Até na resposta a João Santana, marqueteiro do PSDB demonstra mediocridade

paulovasconcelos
Ontem vários jornais publicaram entrevistas com João Santana para divulgação do livro “Um Marqueteiro no Poder”, de Luiz Maklouf Carvalho (que deve estar chegando por aqui em casa na próxima semana, via Amazon).
Nessas entrevistas, João Santana lembrou que na campanha o PSDB “fez uso amador da mediocridade”. Sobre o rival Paulo Vasconcelos (marqueteiro tucano em 2014), Santana disse que não passa de “um marqueteiro de segunda divisão (…) caindo para a terceira”.
Na verdade, as entrevistas de Santana têm despertado sentimentos ambivalentes no eleitorado de direita ou mesmo no eleitorado republicano em geral. Alguns o odeiam por ter jogado o jogo, e outros o admiram, esperando que a oposição passe a jogar as regras do jogo. Obviamente, estou no segundo grupo.
Um leitor mandou um ótimo vídeo resumindo muito bem como agiu a campanha do PSDB diante da campanha do PT:


Achei particularmente interessante ter a música do filme Mortal Kombat como fundo, com a frase “choose your destiny” (“escolha seu destino”) no início. Adaptando para a realidade da política, há quem escolha jogar o jogo político, e há quem prefira o auto-engano de fingir que este jogo não é importante. Escolha o seu destino…
Ao invés de reconhecer que tanto Vasconcelos como o PSDB escolheram seu destino (de perder uma eleição fácil), restou a amargura e o rancor contra quem jogou de acordo com as regras. E o fez muito bem, como Santana.
Em entrevista à Marina Lima, do Globo, Paulo Vasconcelos disse:
O João deu uma surtada! O chá de cogumelo da juventude fez efeito retardado. Deve ser o calor. A  eleição acabou e a disputa foi entre profissionais, entre CNPJs, não entre pessoas. Como ele pode dizer que nossa campanha foi mediocre? Na nossa atividade de marqueteiro, para o bem e para o mal, a eficiência se mede pelos números, pelo quantitativo. Nesse caso específico, quem mais ganhou votos foi o Aécio. Em apenas duas semanas, com ferramentas e tempos iguais, ganhamos 16 milhões de votos, e ele, com Dilma, ganhou 11 milhões de votos.
Tirando a piadinha do início, a análise é catastrófica. Primeiro, por que Aécio já começou o segundo turno herdando votos dos não-petistas, o que o fez estar na largada uns 3 ou 4 pontos à frente de Dilma. Segundo, por que de acordo com eficiência, estando Aécio na primeira posição, concluindo com uma derrota por 3%, isso só pode configurar um desempenho medíocre da campanha tucana mesmo. Terceiro, por que ele mesmo disse que haviam “ferramentas e tempos iguais”, o que demonstra de forma ainda mais cabal sua mediocridade.
Vasconcelos deve até ser um bom profissional. Mas não serve para a política. Talvez ele seja bom para campanhas de sabonete, cerveja e preservativos. Mas para política, é preciso de um outro tipo de habilidade que ele não parece ter.
Antes do segundo turno, nós éramos um time da série B jogando no campo adversário, com um terço do tempo e com a torcida contra. Conseguimos levar esse time da segunda divisão para a final do campeonato e perdemos nos pênaltis.
Não vamos distorcer os fatos. A campanha tucana foi mal desde o início, até antes de começar o primeiro turno. Foi por isso que o tucano foi levado, em determinado momento da campanha, a estar na série B. De novo, isso é demérito de marquetagem tucana, não um mérito.
E a “torcida” estava contra o PT, que tinha altíssimos níveis de rejeição antes do início do certame. Foi a campanha tucana que não soube aproveitar esta rejeição contra o PT e complicou uma eleição que deveria ser fácil para Aécio. Lembremos que o Brasil enfrentava (e ainda enfrenta) um gravíssimo período de crise e denúncias de corrupção em ritmo torrencial.
Alias, o desempenho de Aécio nos debates mostra que ele foi muito, mas muito superior aos marqueteiros do partidos, liderados por Vasconcelos.
Sejamos francos: perder nos pênaltis um jogo que era para ser ganho de goleada é algo para se tirar do currículo.
A única coisa que o marqueteiro não pode fazer é reescrever a História. Eu não quero levar para a minha biografia uma deselegância de responder ao João no mesmo tom. Os números estão aí. Dizer que fizermos uma campanha medíocre é chamar a maioria dos gaúchos e os 70% dos paulista que votaram em Aécio de medíocres. Isso é um desrespeito com o eleitor.
Eu votei em Aécio Neves, assim como toda minha família. E foi doloroso assistir o horário eleitoral do PSDB. Chegava a dar vergonha.
Não é que eu queira me gabar, mas sou um especialista no material de estrategistas da política, especialmente David Horowitz, e precisamente por isso eu assistia o horário eleitoral em agonia. A sensação era: “não é possível que de novo eles não vão disputar posições como ‘aprovado/rejeitado pelos seus’ ou ‘inimigo dos pobres’ ou ‘o adversário tem um Ministro da Fazenda que vocês devem temer'”.
Então, Vasconcelos, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Uma coisa é um eleitor do PSDB (e muitos deles eram apenas não-petistas), outra coisa é a campanha feita pelo partido. E é por causa desta campanha medíocre que o PSDB perdeu uma eleição que poderia ter ganho com um pé nas costas.
Antes da eleição eu dizia: “independentemente dos resultados, estas serão as eleições mais fascinantes da história da política nacional”.
Por que eu disse isso? Por que, enfim, teria ficado muito claro para uma parcela dos eleitores que existem regras a serem seguidas no jogo político. Regras estas que perfazem as ações na guerra política. E ter chance de vencer passa a ser puramente uma questão de escolha. Não há mais mistério. Não há mais direito moral para o lançamento de desculpas esfarrapadas. Há apenas a possibilidade da opção ou não de permitir que o apego à estratégia vença o ego de muitos que ainda preferem o auto-engano de achar que o PSDB mereceu vencer as eleições.
Eu vou além: se o PSDB tivesse vencido as eleições, talvez alguns pudessem achar que a campanha de Vasconcelos foi a correta. Não foi. Foi desastrosa. E era para Dilma ter vencido por uns 55% a 45%. A diferença foi apenas de uns 3% por causa de uma série de meteoros que cairam em cima dos petistas, especialmente as delações de Youssef às vésperas do pleito.
Essa é a grande divisão de nossa era: aqueles do nosso lado que ouvirão as palavras de João Santana e enfim aprenderão uma coisa ou duas (assim como já ocorreu com muitos leitores deste blog). Ou aqueles do nosso lado que rejeitarão qualquer tipo de aprendizado e continuarão achando que Vasconcelos foi algo melhor do que medíocre, optando pela ilusão de achar que a estratégia estava correta. Estes vão continuar nos atrapalhando…
Eu acho até que João Santana foi polido ao tratar da campanha do PSDB. Para mim, a campanha do PSDB foi um crime moral.