domingo, 3 de janeiro de 2016



João Santana mandando a real. E vai doer. Mas é preciso. É parte do aprendizado.

joaosantana
Pode ser reconfortante achar que o PSDB só perdeu por “urnas fraudadas”, quando na verdade teve uma derrota merecidíssima. Enfim, veja alguns trechos de matéria do Globo, Livro sobre João Santana mostra táticas que marqueteiro adotou para desestabilizar adversários de Dilma:
RIO – “Os candidatos são tão humanos e muitas vezes mais frágeis do que o eleitor. Ninguém gosta de levar porrada. Ou se enfurece e reage, ou se quebranta”.
Que o digam Marina Silva e Aécio Neves. Contra o ex-governador de Minas, o marqueteiro João Santana — autor da análise acima — saiu-se com acusações de nepotismo em 2014, quando Santana fez a campanha do PT. O tucano acabou chamando Dilma Rousseff de “leviana”, no que se voltou depois contra o próprio Aécio: o PT passou a insinuar que, com isso, o senador teria mostrado que era agressivo com mulheres. Já Marina levou porque chorou — virou aquela que não aguenta a pressão, e onde já se viu isso numa candidata a comandar o país. As estratégias para a reeleição de Dilma — quando Santana, então, passou a ter em sua conta a vitória de sete presidenciáveis — estão em “João Santana: um marqueteiro no poder”, de Luiz Maklouf, que chega nesta sexta-feira às livrarias, pela Record.
Na avaliação do marqueteiro e jornalista, o pensamento de que quem bate perde eleição é falso, pois perde é quem não sabe bater ou se defender. “A política é, ao mesmo tempo, a sublimação e o exercício da violência”, diz.
[…]
Em determinados momentos, “é mais tático você influenciar os adversários do que o eleitor”, resume Santana. E desestabilizar a concorrência foi o objetivo com os ataques, por exemplo, a Marina Silva. Quando ela assumiu a cabeça de chapa do PSB, após a morte de Eduardo Campos — e as pesquisas passaram a fazer de Marina uma rival a ser batida —, o marqueteiro a avaliou e deu o diagnóstico: ela tinha “queixo de vidro”. Mas, garante ele, o embate foi “100% político e 200% programático. (…) Marina não revidou ou por ingenuidade, ou por fragilidade teórica, ou por soberba. Talvez mais por soberba”.
[…] foi Santana o primeiro na campanha petista a dizer que não seria Marina a companhia de Dilma no 2º turno, mas, sim, Aécio. E o queixo mineiro não era de vidro; contra ele, argumentou o marqueteiro, a presidente tinha de ser mais propositiva. Os ataques mais duros ao senador, que havia perdido para Dilma em sua própria terra no 1º turno, viriam no final: “a ação negativa (contra Aécio) deveria ser feita em ‘ondas superconcentradas’ (…). Ou seja: escolher determinados dias e temas para superbombardeios”. Foi assim que os brasileiros começaram a ouvir, sobre Aécio, que “quem conhece não vota”.
“Aécio quis se fazer de vítima e de superior (…). Chegou a lançar um slogan ridículo e inócuo: ‘A cada ataque, uma proposta’. Isso não produziu nem defesa, nem proposta”, diz Santana.
Há momentos de dureza na abordagem adulta da política, e um desses momentos ocorre quando somos chamados ao despertar por adversários que, chegando até a ter pena do nível de incompetência alheia, dão algumas dicas.
Isso chega a lembrar uma cena do filme Indiana Jones e a Última Cruzada, onde um inimigo do jovem Indiana Jones lhe diz: “Ok, você perdeu essa, mas não precisa gostar de perder!”.
Às vezes é desagradável ouvir coisas assim, mas elas são úteis para o amadurecimento.
Claro que Santana fantasia ao negar que a campanha do PT fez uso profissional da baixaria. Mas está certíssimo ao dizer que a campanha do PSDB fez uso amador da mediocridade, conforme outra matéria, do Brasil247:
É mentira que nossa campanha tenha feito uso profissional da baixaria. Mas é verdade que a dele fez uso amador da mediocridade.
Eu complementaria melhor: a campanha do PT só fez uso profissional da baixaria por ter sido levada à isso pelo uso amador da mediocridade da campanha do PSDB.
Uma campanha que retruca assassinato de reputações com musiquinhas é patrocinadora da violência adversária. É a dinâmica do mundo animal, mais do que da guerra política.
E quanto à campanha de Marina? Esta também foi uma decepção, digna de vergonha eterna. Santana diz:
Marina não revidou as nossas críticas ou por ingenuidade, ou fragilidade teórica ou por soberba.
João Santana precisa de adversários que valorizem suas vitórias. Ele talvez esteja chateado por não ter feito o PT ganhar essas eleições. Na verdade, quem perdeu foi a campanha do PSDB. E a da campanha do PSB/Rede.

 Em tempo: o que João Santana disse não é nada que você já não tenha lido à exaustão neste blog, certo?