Saiba porque Dilma citou "alma coletiva" em seu discurso de posse
Claudio Tognolli
2 de janeiro de 2015
NINGUÉM reparou no seguinte trecho do discurso de posse de Dilma:
“O
nome de milhões de guerreiras anônimas que, voltam a ocupar, encarnadas
na minha figura, o mais alto posto de nossa grande nação.
Encarno outra alma coletiva que amplia ainda mais a minha responsabilidade e a minha esperança”.
Note bem o termo empregado: alma coletiva. O ghost writer do discurso de Dilma deixou bem claro a quem o termo alma coletiva se endereça.
Quem
entende o mínimo de história do Brasil, e o mínimo de filosofia, deve
ter tido um repuxão, um vazio no fígado, um bolo duro na garganta, ao
ter ouvido o termo. Porque “alma coletiva” é definição empregada pelo
nacional-socialismo, pelos nazistas, pelos caudilhos. Pelo totalitarismo
religioso, enfim.
Quem
mais entendeu sobre alma coletiva no Brasil foi o embaixador José
Osvaldo de Meira Penna, sobretudo em sua obra “Em Berço Esplêndido”
(Editora Topbooks, 1999). Meira Penna mostra, como ninguém, que Getúlio
Vargas, exatamente quando o Eixo assombrava o mundo na Segunda Guerra,
vendia, a torto e a direito, a ideia de “alma coletiva”.
Meira Penna dissecou como ninguém os perigos da “alma coletiva” ser defendida no Brasil. E foi beber na origem de quem apontava os perigos na alma coletiva na política: Karl Jung.
Escrita em 1936, a obra Wotan, de Jung, deixa claro os perigos da alma coletiva
em política: “A a psicose coletiva alemã surge a partir do louvor da
imagem arquetípica de Wotan, deus nórdico pagão dos germânicos, das
tempestades, da efervescência, da inspiração e da guerra”.
Segundo
Jung, de Wotan corresponde a “uma qualidade, um caráter fundamental da
alma alemã, um “fator” psíquico de natureza irracional, um ciclone que
anula e varre para longe a zona calma onde reina a cultura”.
Tem muito líder religioso fundamentalista que adora também o termo alma coletiva. Mas o vende como “egrégora”.
Do grego egrêgorein, «velar, vigiar”, é a soma de energias coletivas.
O
Brasil não precisa de conceitos de coletividades, de “raízes nacionais”
(como defenderam a vida toda os hoje ministros da Cultura, Juca
Ferreira, e da Ciência, Aldo Rebelo). Quem tem raiz é planta. Coletivo é
ônibus, bonde, trem e metrô.
O
Brasil não precisa de “coletivos”, de “matilhas culturais”, aliás nomes
que você encontra em vários blogs, que defendem cegamente o PT, e vivem
de grana pública.
O
Brasil precisa de almas individuais, sem raízes, que defendem uma
cultura universal, planetária, sem barreiras. Individualismo dá prêmio
Nobel: não o contrário
Quem mais criticou o conceito de alma coletiva,
aliás, foi o negro mais brilhante dos EUA: W.E.B. Du Bois, homem de
Harvard , estudado na Alemanha. Referia que a “alma vital”, a que em
alemão ele chamava de “seleleben”, ia pelo individualismo. (“O futuro
será, muito provavelmente, o que as minorias raciais individualmente
fizerem dele”, notou Du Bois em sua obra The Negro, 1915).
Dilma vai contra tudo isso, indica o discurso de posse.
E
vou te dizer porque: porque, na brasilidade mais profunda, seja sob o
PT do Mensalão barra Petrolão, seja sob o tucanato Alstom, alma coletiva
quer dizer que todos bebem da mesma fonte.
Veja
bem: Dilma nomeou um ministério pífio para fazer favores políticos.
Que, além das benesses auferidas pelas indicações de titulares e
apaniguados, são pagos pela distribuição de grana.
O
Mensalão foi a pré-fixação dos pagamentos demandados pelos políticos
coligados e de ocasião. O Mensalão tinha valores combinados, datas de
pagamento, locais de saque. Era a corrupção tópica: local e hora de
saque previamente combinados. Ainda que com uma logística complexa de
repasses.
Petrolão
foi a mesma coisa: as almas coletivas indo sacar o prometido. Mas,
desta vez, direto no caixa da Petrobras, sem uma lógica de assalto
medieval tecnicamente tão intricada como a do Mensalão.
Agora você entende o que é a “alma coletiva” ?