5º Congresso do PT: novos impasses, velhos discursos
Matheus Pichonelli – 20 horas atrás
O PT é muitas vezes achincalhado por determinados setores da mídia, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O jornalismo marrom de certos veículos deve ser responsabilizado toda vez que falsear ou distorcer fatos para caluniar, injuriar ou difamar. O domínio midiático por alguns grupos econômicos tolhe a democracia, completou o presidente do PT, Rui Falcão. “Eles tentam nos desgastar. É a tentativa de me separar [da gestão Lula], mas como é que eu posso ter conflito comigo mesma?”, finalizou a presidenta Dilma Rousseff.
A sensação de déjà vu ao ler as frases acima é compreensível. Elas fora ditas durante o 4º Congresso do PT realizado em setembro de 2011, em Brasília. Dilma Rousseff tinha oito meses de governo e uma popularidade significativa herdada de Lula, seu antecessor. Ela enfrentava a pressão da direção do partido por “medidas mais ousadas” do Banco Central para acelerar a queda da taxa básica de juros e reduzir a valorização do real frente ao dólar.
Como agora, era notória a diferença de expectativa entre governo e partido, que já falava em “ameaça à economia brasileira”.
O tema principal, porém, era a regulamentação dos meios de comunicação, que o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) jurava estar na pauta do governo.
Quatro anos depois, nada. A proposta seguiu em banho-maria, a taxação de grandes fortunas ficou pra qualquer dia desses, as taxas de juros se aceleraram, mas para cima. Carvalho deixou o governo, parte da cúpula petista foi condenada no STF pelo mensalão, o partido voltou ao centro das páginas policiais, desta vez por irregularidades na Petrobras, uma Copa do Mundo foi realizada, 8 dos 12 estádios têm prejuízo - um não foi sequer pago -, um punhado de obras viárias foi abandonada, os projetos estruturantes minguaram.
Na abertura do 5º Congresso, desta vez realizado em Salvador, Lula voltou a atacar a mídia e fez troça sobre as demissões nos principais veículos do país. “Esses veículos falam tanto do nosso governo, não são capazes de administrar a própria crise sem jogar o peso nas costas dos trabalhadores. E acham que podem ensinar como se governa um país com mais de 200 milhões de habitantes”, disse.
A conversa é a mesma de quatro anos atrás, mas o ambiente é bem outro. A estratégia pode animar a militância: apara dissidências dentro do partido e une suas frentes contra os adversários maiores: a imprensa e a oposição (quem acessou o site do PT pela manhã encontrava uma chamada de artigo com a hashtag#PSDBMassacraTrabalhadores).
Faz parte do jogo político, até porque a má vontade da imprensa com o partido é notória, mas ela não esconde a encruzilhada petista. Dilma, que há quatro anos se queixava das notícias sobre seu distanciamento com o partido e o antecessor, teve de conclamar a militância a sair em defesa do seu governo. Parecem lados distintos, e são: a articulação política está nas mãos do vice Michel Temer, do PMDB, a Fazenda é ocupada por Joaquim Levy, o Ministério da Agricultura, por Katia Abreu, e o das Cidades, por Gilberto Kassab.
Quem acompanhou o último Congresso lembra-se da cara de enfado da senadora Marta Suplicy. Ela puxa a fila de antigos símbolo petistas que deixaram o partido, hoje incapaz de fazer frente à onda conservadora de parlamentares dispostos a encarcerar adolescentes, definir a “cristofobia” como crime hediondo, diminuir a participação política do eleitor, instaurar o Estatuto da Família, precarizar o trabalhador.
“As circunstâncias impõem movimentos táticos para alcançar o objetivo mais estratégico, a transformação do Brasil em uma nação desenvolvida e mais justa”, disse a presidenta desta vez.
O discurso parece correto, mas poderia ter sido levantado na campanha presidencial. O que ela pede agora é o engajamento dos petistas para defender uma política econômica “firme com os fracos” e “frouxa com os fortes”. A definição não é de nenhum editorial de jornal, mas do próprio presidente do partido, Rui Falcão.
Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula